Título: Ameaça de Correa ao Bird causa apreensão
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 17/04/2007, O Mundo, p. 26

Presidente equatoriano diz que pode expulsar representante do banco, um brasileiro a quem acusa de chantagem em empréstimo.

QUITO. Depois de obter uma vitória política avassaladora nas urnas - conseguindo aprovar com cerca de 80% dos votos seu projeto de Assembléia Constituinte para modificar a Constituição equatoriana - o presidente Rafael Correa deu, mais uma vez, provas de que pretende tornar o país independente dos organismos internacionais de crédito, com quem o Equador mantém dívidas de até US$10 bilhões, o que gera nervosismo e cautela entre investidores. Minutos depois da vitória do "sim" ser anunciada, no domingo à noite, Correa declarou que vai expulsar do país um antigo desafeto: o representante do Banco Mundial (Bird) no Equador, o brasileiro Eduardo Somenssato, que preferiu não dar declarações oficiais sobre o caso.

Ministro de Governo tenta amenizar declarações

Correa acusa Somenssato de chantagem sobre um empréstimo de U$100 milhões quando o atual presidente era ministro da Economia, em 2005. O chefe de Estado garantiu que seu governo "está investigando" o cancelamento pelo Bird do empréstimo que, segundo o presidente, ocorreu em represália às reformas no setor petroleiro. Mas, segundo declarações do Bird na época, o então ministro Correa havia reformulado a lei de responsabilidade fiscal do Equador, além de anunciar que gastaria fundos de excedentes do petróleo, violando regras de empréstimo do órgão. Por isso, o dinheiro foi negado. Na época, o caso teria sido decisivo para o desligamento de Correa do ministério, onde ficou por apenas três meses.

- É claro que este tipo de atitude, falar em expulsão de organismos internacionais do Equador, poder gerar nervosismo. Mas acho que Correa fala isso mais como forma de atrair seus eleitores, que gostam desse discurso duro. Na realidade, duvido de que haja uma expulsão, o que haverá é uma negociação, já que o Equador está seguindo uma tendência da América Latina de não ter mais dívidas com órgãos como o Banco Mundial, o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que eu acho benéfico para o país - diz o economista Marco Romero, da Universidade Andina Simon Bolivar.

Em entrevista ao GLOBO ontem, o ministro de Governo (equivalente à Casa Civil), Gustavo Larrea, tentou minimizar o discurso duro de Correa ao falar na expulsão de Somenssato.

- Nosso governo preza e sempre vai prezar a diplomacia. O que não queremos é ter aqui instituições que já causaram tantos danos e endividaram o país. Vamos pagar até o fim do ano todas as nossas dívidas e tchau tchau - disse, afirmando que, por enquanto, o governo não considera nenhuma moratória.

Correa, no entanto, afirma que todas as dívidas serão revistas, e que o Equador pagará apenas a que forem justas. Além de com o Bird, o Equador possui dívidas com o BID, com a CAF (Cooperação Andina de Fomento), com o Fundo Latino Americano de Reservas e com credores privados que compraram bônus da dívida equatoriana. A última parcela da dívida com o FMI, de um total de cerca de US$22 milhões, foi paga pelo governo equatoriano na semana passada, como anunciou Correa no domingo.

Segundo fontes, caso as dívidas sejam realmente pagas, os organismos multilaterais podem interromper seus projetos no Equador - como já deixaram de ter em outros países latinos, como a Venezuela e o Brasil. O problema é se o país conseguirá se sustentar economicamente.