Título: O DEM e os outros
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O Globo, p. 2

Na seqüência dos atritos dentro da oposição, por causa da CPI do Apagão, o presidente do DEM, Rodrigo Maia, rebate as críticas de integrantes do PPS e do PSDB sobre a oposição que fazem os democratistas: uma oposição sistemática e sectária, que seria inadequada à conjuntura. Eles é que estão equivocados, diz o presidente do DEM, porque não leram corretamente as últimas pesquisas de avaliação do governo.

Pelo PPS, falou aqui na segunda-feira, na coluna de Ilimar Franco, o deputado Fernando Coruja, informando da opção do partido por uma postura mais independente. Ontem falaram, entre outros tucanos, o líder da minoria, Júlio Redecker. Os tucanos são contrários à instalação da CPI no Senado, como quer o DEM, antes mesmo da decisão do STF, e não estão boicotando as votações, como o DEM, que hoje faz a oposição mais cerrada ao governo Lula. Rodrigo protesta:

- Não posso aceitar, porque não corresponde à verdade, afirmações de que o DEM estaria isolado e atuando com radicalismo. O PSDB tem uma fraqueza óbvia, por ter seis governadores, o que gera dependência do governo federal. Ficaram impressionados com a popularidade de Lula porque não leram corretamente as pesquisas.

Elas informam, diz ainda, que o presidente Lula vai bem, mas que o governo vai mal, o que seria típico dos governos populistas: neles, o presidente está sempre bem porque opera com o personalismo e o carisma, mesmo quando o governo vai mal. Nas pesquisas CNT-Sensus e CNI-Ibope, embora a aprovação seja alta no atacado, nos quesitos setoriais ele viu um forte desgaste do governo e a expectativa de que a oposição seja firme, sobretudo em relação à crise aérea. Na CNT-Sensus, por exemplo, apenas 25,2% culparam o governo federal. Mas a soma dos que responsabilizaram também a Aeronáutica, a Infraero e os controladores (entes do governo federal) ultrapassa os 50%. Para 48%, a renda pessoal não vai aumentar. Na pesquisa do Ibope, 57% desaprovaram a política de juros, 55% a de emprego e 63% a de segurança pública. A política social do governo (incluindo educação e saúde) tinha a aprovação de 58% (contra 37%) em dezembro. Agora, o apoio caiu para 52% e a reprovação foi a 44%.

- O grande número de brasileiros que tomou conhecimento do apagão aéreo mostra que a questão não é de embate político, mas de defesas dos interesses e necessidades da população. Ela quer uma resposta, e a oposição tem esse dever. Da mesma forma, não podemos adotar esta postura dos tucanos, que pregam o compartilhamento da CPMF com os estados. O que a sociedade quer é o fim deste imposto escorchante - diz Rodrigo.

Mas o que divide mesmo a oposição é o "locus" da CPI, com os tucanos dando prioridade à da Câmara e à espera da palavra do STF.

- É tolice dizer que o STF deixaria de julgar o recurso da Câmara se a CPI do Senado fosse logo instalada. Se é lá que somos fortes, é óbvio que lá teremos melhores condições para investigar tudo. Das causas da crise à compra da Varig pela Gol.

Mas agora já não é só a CPI. O fim da reeleição também gera discórdia intra e interpartidária na oposição.