Título: Carlos Wilson volta à Câmara e apóia CPI
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O País, p. 3

Governistas ficam apreensivos com declarações do deputado, ex-presidente da Infraero.

BRASÍLIA. O clima no governo mudou em relação à instalação da CPI do Apagão Aéreo no Congresso Nacional. Ontem, o sinal amarelo acendeu por dois motivos: a percepção de que uma investigação no Senado está cada dia mais próxima de se tornar uma realidade, e a defesa da investigação do caos aéreo feita pelo deputado Carlos Wilson (PT-PE). Ex-presidente da Infraero, Carlos Wilson subiu à tribuna para informar que esteve fora por duas semanas para tratamento de saúde, mas que está de volta e disposto a colaborar com a CPI.

Carlos Wilson afirmou que, na condição de ex-presidente da Infraero, poderia ajudar no esclarecimento de fatos. As declarações surpreenderam petistas e líderes governistas na Câmara. O objetivo da oposição com a CPI é investigar denúncias de irregularidades na gestão da Infraero nos últimos anos.

- Fiquei afastado por 15 dias para fazer um tratamento médico, que foi exitoso. Quero dizer que sou a favor da CPI do Apagão Aéreo. Fui presidente dessa grande empresa e poderia colaborar com algumas informações, apesar de a Infraero não estar ligada diretamente ao caos aéreo - avisou Carlos Wilson.

Deputado não quer ser tratado como bode expiatório

O rápido pronunciamento do deputado pernambucano pegou os petistas e o governo de surpresa. A avaliação feita ontem no Palácio do Planalto foi de que Wilson mandou um recado claro de que não vai aceitar ser abandonado pelo governo e ser tratado como uma espécie de bode expiatório do apagão aéreo.

Ministros e líderes aliados já identificaram que o deputado está contrariado com o fato de que denúncias de irregularidades envolvendo sua gestão na Infraero estejam saindo de dentro do próprio governo Lula.

A amigos mais próximos, Carlos Wilson tem dito que as acusações de irregularidades em sua gestão estão sendo alimentadas pelo atual presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. A gota d"água foi a decisão do conselho de administração da Infraero de afastar, na semana passada, quatro funcionários que trabalharam na gestão de Carlos Wilson, sob suspeita de corrupção. Ontem, foi aberta nova investigação do governo sobre a Infraero.

Cresceu nas últimas horas a preocupação no núcleo do governo com a possibilidade da instalação de duas CPIs ao mesmo tempo no Congresso - na Câmara e no Senado. Auxiliares do presidente Lula avaliavam ontem que, com a temperatura política subindo no Congresso, não haveria mais como tentar um acordo com a oposição para restringir a investigação à Câmara. A CPI do Senado é uma realidade quase concreta, e o Planalto sabe que lá, onde não tem maioria sólida, é difícil controlar a ação da oposição.

- O governo quis se livrar da guilhotina ao tentar barrar a CPI na Câmara. Agora, não tem mais jeito: vai cortar o pescoço e os pés - disse o vice-líder do Democratas (ex-PFL), deputado José Carlos Aleluia (BA).

"Nenhum governo gosta de CPI, mas não vamos impedir"

Oficialmente, o discurso do Planalto é que, se o Supremo Tribunal Federal determinar a instalação da CPI, nada será feito para impedir.

- Nenhum governo gosta de CPI, que virou o único instrumento da oposição contra o governo Lula, mas não vamos impedir - disse o ministro Walfrido dos Mares Guia, de Relações Institucionais.

Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), entraram em ação ontem, na tentativa de convencer os senadores de que a idéia original da CPI é da Câmara. Em reunião com os dois líderes governistas e mais o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Agripino Maia (DEM-RN) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) afirmaram que a oposição vai mesmo protocolar hoje o requerimento de criação da CPI. Sem alternativa, Renan, que vem defendendo que a investigação seja feita na Câmara, como prefere o governo, declarou que dará seguimento ao pedido.

- Há uma divisão sobre a constituição dessa CPI. Pessoalmente, sou contra que ela se realize no Senado - reforçou Renan.