Título: Chinaglia quer imprensa distante
Autor: Lima, Maria e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O País, p. 4

Presidente da Câmara transfere comitê de jornalistas para longe do plenário.

BRASÍLIA. A dificuldade já revelada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para lidar com as cobranças da imprensa e com o trabalho de cobertura dos jornalistas na Casa levou-o a desengavetar um projeto do ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP) de transferir o Comitê de Imprensa do local em que funciona há mais de 30 anos para outra área. Considerado um espaço privilegiado pela amplitude, proximidade e acesso direto ao plenário, o comitê dará lugar ao gabinete do próprio Chinaglia.

Com a mudança, discutida ontem em reunião da Mesa, os cerca de 200 profissionais de rádio, jornais, TVs e veículos de comunicação de todo o país que cobrem diariamente as atividades da Câmara serão acomodados em um espaço menor, um pouco mais distante e sem acesso direto ao plenário. O comitê será transferido para o espaço onde hoje funciona a primeira vice-presidência.

O projeto, que altera a obra original de Oscar Niemeyer, foi elaborado à época de João Paulo Cunha e retomado na nova administração petista na Câmara. Recentemente, a bancada do PT na Casa lançou uma cartilha para os novos deputados, com dicas como a de evitar conversas longas com jornalistas.

- Não tem jeito, os membros da Mesa alegam que precisam de mais espaço para trabalhar. Vai ser um redesenho geral de espaços, também para acomodar lideranças como a do PSOL, como determinou o STF. Ninguém gosta de mudança, mas algo maior se alevanta - justificou o primeiro-secretário, Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Não é a primeira vez que a gestão Chinaglia tenta dificultar o trabalho dos jornalistas. Uma das medidas que tomou foi a suspensão do acesso do Comitê de Imprensa à Intranet - o site interno onde os atos da administração da Casa são noticiados. Mas, diante da reação da imprensa, o acesso foi mantido.

Segundo Serraglio, no projeto original de Niemeyer a presidência da Câmara funcionaria onde hoje está o comitê. O arquiteto nega, diz que o prédio é tombado e que toda reforma tem de ser feita de forma que não desfigure seu projeto:

- Não fui consultado sobre nada disso. Estou sendo ouvido e informado dessas mudanças pela primeira vez.

O ex-presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ampliou o espaço do comitê, retirando de uma parte do salão os servidores do cerimonial.

- Não só não aceitei retirar o comitê, como ampliei o seu espaço - dizia Aldo ontem.

Com a mudança, Chinaglia se livra do assédio popular e dos jornalistas que o interpelam no Salão Verde quando chega à Casa e nos seus deslocamentos entre o plenário e o atual gabinete. A idéia é dar ao presidente uma entrada privativa.

- O que o presidente não quer é atravessar o Salão Verde e ser incomodado pelos jornalistas - confirma o líder da minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), disse que Chinaglia está usando a determinação do STF de que os pequenos partidos tenham estrutura de funcionamento para justificar a mudança.

- Já temos nosso espacinho lá no anexo 3 e estamos bem. O PSOL não pode ser usado para justificar decisões obscuras da Mesa. Mudar o comitê me parece querer esconder uma visão política de que jornalista incomoda, pergunta o que não deve, publica o que não pode - disse.

O comitê foi inaugurado no início da década de 70, quando era presidente da Casa o hoje senador Marco Maciel (DEM).

- O objetivo foi facilitar o trabalho da imprensa, criando um símbolo de liberdade e transparência e dando condições de melhor divulgação dos trabalhos do plenário. O comitê ali é histórico. Saíamos do plenário e íamos conversar direto com os jornalistas, sem nenhuma barreira - lembra Maciel.