Título: Aliados têm listas de cargos de estatais que querem
Autor: Camarotti, Gerson e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O País, p. 5

Lula teria determinado, porém, preservar comando de Petrobras e bancos para técnicos, mesmo que indicados por partidos

BRASÍLIA. Assustados com o apetite dos partidos aliados por cargos poderosos em órgãos técnicos do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus auxiliares decidiram estabelecer um limite na composição do segundo escalão: líderes e presidentes de partidos da base foram avisados que estão fora da divisão política postos de comando de Petrobras, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e o BNDES.

Antes do escândalo do mensalão, em 2005, boa parte desses cargos era ocupada por indicações políticas. A presidência da Caixa é um exemplo. Até o ano passado o titular era Jorge Matoso, afilhado da atual ministra do Turismo, Marta Suplicy. Matoso caiu no escândalo que também derrubou o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

"Prioridade é ter técnicos e funcionários de carreira"

Hoje, muitos desses postos estão ocupados por indicações de partidos, embora a maioria tenha perfil técnico. Há exceções, como Sérgio Machado, presidente da Transpetro.

A preocupação do governo é com a politização de cargos estratégicos, sobretudo em bancos e estatais - prática que deu muita dor de cabeça ao presidente no primeiro mandato. A estratégia foi decidida depois que os partidos passaram a priorizar as estatais nas listas enviadas ao Planalto.

- Os partidos podem indicar nomes para os cargos técnicos das estatais. Não custa nada pedir. Sei que esses cargos têm visibilidade. Mas quem indica não tem o direito de ficar chateado se a nomeação não sair. Faremos uma análise descompromissada de cada caso - disse o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. - A prioridade é ter técnicos e funcionários de carreira nesses postos.

Foi por causa da pressão dos aliados que Lula resolveu confirmar imediatamente os presidentes da Petrobras, Sérgio Gabrieli, afilhado do governador Jaques Wagner (PT-BA); da Caixa, Maria Fernanda Coelho, indicada pelo PT de Pernambuco; e do Banco do Brasil, Lima Neto, funcionário de carreira. O cuidado do governo não é por acaso. Na semana passada, da lista de dez cargos entregues pelo PP ao Planalto, a metade era para postos técnicos em estatais: uma diretoria do BNDES, uma vice-presidência da Caixa, uma diretoria de Furnas, a BR Distribuidora e a diretoria de abastecimento da Petrobras.

Na lista do PMDB entregue ao Planalto a demanda por postos em estatais também é grande. O senador José Sarney (AP) indicou Barne Aurelano, técnico do sistema elétrico, para a presidência da Eletrobrás. Para a Eletronorte, Sarney trabalha pela permanência do atual presidente, Carlos Nascimento. Inicialmente, o nome indicado para a Eletronorte foi do ex-senador Luiz Otávio (PA), aliado do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Mas o Planalto vetou.

O governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) indicou Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas. O ex-deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) foi indicado para a diretoria de exploração da Petrobras. Pode acabar ficando com uma diretoria da BR Distribuidora. Já o governador Marcelo Déda (PT-SE) tenta emplacar o ex-presidente da Petrobras e ex-senador José Eduardo Dutra (PT-SE) na presidência da BR Distribuidora. O PT conseguiu manter no comando do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) o economista Roberto Smith. Mas PSB e PMDB querem dividir as diretorias do banco.