Título: No Rio, MST fecha Via Dutra e BR-101
Autor: Barbosa, Adauri Antunes e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O País, p. 8

Sem-terra invadem ainda duas fazendas em Campos e fazem protesto em Piraí

CAMPOS e PIRAÍ. Integrantes do MST fecharam ontem duas das principais rodovias que cortam o Estado do Rio - a Rodovia Via Dutra e a BR-101 - e invadiram duas fazendas em Campos para lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás. Em Piraí, no Sul Fluminense, cerca de 60 sem-terra bloquearam a Dutra por 40 minutos e caminharam por 16 quilômetros até o Fórum da cidade. Diante do prédio, deixaram 19 cruzes, representando os trabalhadores rurais mortos há 11 anos. Os manifestantes são acampados das fazendas Cesbra e Aymorés, que totalizam 1,7 mil hectares, desapropriadas pelo Incra. No entanto, as terras ainda não foram distribuídas para as 85 famílias.

BR-101 ficou fechada por uma hora e meia

A exemplo do que fez na Dutra, no Sul do Estado, o MST fechou de manhã a BR-101 em Campos, no Norte do estado, perto de Morro do Coco, na divisa com o Espírito Santo, por uma hora e meia. Os sem-terra usaram barricadas de pneus e madeiras. Cerca de 250 pessoas participaram da manifestação, que tumultuou o tráfego da rodovia. Em seguida, eles invadiram as fazendas Desejo e Azurara, que somam 550 hectares.

A coordenação do MST na região informou que, assim como a fazenda São José, invadida, as de Desejo e Azurara estão sendo avaliadas pelo Incra para desapropriação por serem improdutivas, em um processo aberto em 2001.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Campos, José do Amaral Ribeiro Gomes, condenou as ações do chamado "Abril Vermelho". Amaral disse que qualquer vistoria do Incra questionando a produtividade de um imóvel rural na região tem que ser reavaliada.

- Os critérios de produção aplicados aqui são os mesmo de São Paulo, um estado onde existe sistema de irrigação forte, onde há maior produtividade. Essas ações acontecem no momento em que o setor agrícola enfrenta a pior crise de sua história por causa das enchentes de janeiro deste ano. Os prejuízos dos produtores rurais superam a marca de R$2 milhões e estamos com a safra comprometida, agora que tínhamos tudo para ter um ano dourado, já que tanto o açúcar quanto o álcool estão em alta no mercado internacional - disse José do Amaral Ribeiro Gomes.

Sobre as duas fazendas invadidas ontem, há liminares da Justiça Federal determinando a integração de posse aos proprietários, decorrente de invasões ocorridas em 2004.

Os sem-terra preparam uma outra manifestação em Campos. O MST diz que vai cobrar do Banco do Brasil financiamento para ao assentados.

(*) Especial para O GLOBO