Título: MST invade pelo país e pede audiência a Lula
Autor: Barbosa, Adauri Antunes e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 18/04/2007, O País, p. 8

No Pará, governadora petista promete indenizar famílias de mortos e 36 sobreviventes de Eldorado dos Carajás

Adauri Antunes Barbosa e Luiza Damé*

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fez ontem uma série de invasões e protestos em todo o país para marcar o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, dentro do "Abril vermelho", e lembrar os 19 mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996. Os sem-terra agiram em pelo menos 11 estados para pedir a agilização da desapropriação de fazendas improdutivas. Em meio à onda de invasões e de bloqueios de estradas, o MST protocolou ontem um pedido oficial de audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o processo de reforma agrária.

Segundo a coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos, há um ano Lula promete receber o movimento, mas até agora não foi marcada a audiência. Na carta ao presidente - protocolada no Palácio do Planalto, enquanto Lula estava na Venezuela -, foi anexada uma pauta com dez itens, entre eles a aceleração das desapropriações para o assentamento de 140 mil famílias acampadas.

- Vamos aguardar que o presidente abra a agenda para receber o MST - disse Marina, acrescentando que o MST não vai negociar sua pauta de reivindicações com o Ministério do Desenvolvimento Agrário ou com o Incra.

Na Bahia, os sem-terra, que fizeram marcha de Feira de Santana a Salvador, conseguiram ser recebidos pelo governador Jaques Wagner (PT), de quem receberam a garantia de que terão reivindicações atendidas.

No Pará, a governadora Ana Júlia Carepa, também do PT, reconheceu a responsabilidade do Executivo estadual no massacre de Carajás e assinou decreto para pagamento de pensão mensal e indenizações às famílias dos mortos e aos 36 sobreviventes. As indenizações variam de R$30 mil a 90 mil. O procurador-geral do estado, José Ibrahim das Mercês, informou que o decreto assegura o pagamento das indenizações e que vai se empenhar para que todos recebam tudo o que têm direito até 2008.

Ana Júlia vai ao local da chacina e recebe documento

Ana Júlia passou parte do dia no local do massacre, ouvindo queixas, reivindicações e participando de uma missa na "Curva do S", onde os sem-terra foram mortos pela Polícia Militar durante o governo do tucano Almir Gabriel. Ana Júlia recebeu de líderes do MST um documento cobrando dela maior atenção do governo às viúvas e sobreviventes do massacre, reforma agrária em terras improdutivas da região, além da prisão de fazendeiros que ameaçam de morte trabalhadores rurais.

Agora, o MST tenta ser recebido novamente por Lula. Na carta em que pede a audiência, o MST diz que nos últimos anos "pouco ou nada foi feito para uma verdadeira reforma agrária", o que contribuiu para a concentração da propriedade da terra. Para o MST, os sem-terra que se organizaram recebem do governo "apenas medidas de compensação social", como o Bolsa Família.

Ontem, o MST pediu a punição dos envolvidos no massacre de Carajás. "Passados todos esses anos, ninguém está preso ou punido", diz nota do MST.

O movimento quer a atualização das regras para medir produtividade das fazendas, baseadas em dados de 1975. E cobra a realização de um mutirão de órgãos públicos para assentar as famílias sem terra, propondo a desapropriação de fazendas estrangeiras que desenvolvem a monocultura. Defendem ainda melhoria na assistência técnica e na educação no campo.

(*) Com o G-1