Título: Escuta da PF mostra procuradora dizendo não ter santo na polícia
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 18/04/2007, Rio, p. 18

Álvaro Lins articulou a indicação de delegado à chefia de Polícia Civil.

Gravada pela Polícia Federal, a articulação para indicar o nome de um delegado à chefia de Polícia Civil mostra a então procuradora Mônica Di Piero falando a Álvaro Lins que o delegado federal José Mariano Beltrame ¿ recém convidado para assumir a secretaria de Segurança ¿ procurava um ¿padre¿ para ocupar o cargo. ¿O Mariano tá catando um padre. Vai catar padre na polícia vai ser difícil¿.

Na conversa gravada em 25 de novembro, a procuradora diz ao ex-chefe de Polícia Civil, deputado Álvaro Lins, ter indicado o delegado Marco Aurélio de Paula Ribeiro para Mariano. A sugestão do nome foi dada por Lins, que nas gravações questiona Mônica sobre a reação de José Mariano ao nome do delegado.

Lotado atualmente no gabinete de Álvaro Lins, na Alerj, Marco Aurélio foi titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial, a Delegacia Antipirataria, no período em que Lins chefiou a Polícia Civil. Interceptações feitas pela PF mostram diversos diálogos entre Marco Aurélio e o inspetor Fábio de Menezes Leão, o Fabinho. Citado como integrante do grupo dos¿ inhos¿, Fabinho foi preso na Operação Gladiador por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis e contrabando.

Ao responder a indagação de Lins, a procuradora diz em tom irônico: ¿Ele (José Mariano) dizia ¿tenho que ter um chefe de Polícia Civil que tenha a mesma cabeça que eu¿. ¿Aí eu disse: sei que você não vai encontrar padre, não vai encontrar santo, mas pode observar o Marco¿.

Durante a conversa, a procuradora fala de outros assuntos, mas Lins insiste, volta a falar sobre o delegado e cita o nome do um senador, dizendo que o político teria ligado para pedir pelo policial.

Mônica responde: ¿Ótimo, você tinha me falado¿, diz. Lins responde que sim e ressalta que a parte técnica e a parte política está feita.

A procuradora completa dizendo: ¿É isso. É trabalho de formiguinha, ir devagar. É o que eu tava te dizendo, o Mariano é muito reservado. Se agente entrar de sola, ele vai se assustar¿, conclui Mônica Di Piero.