Título: Campanha de Maggessi teve doação do bicho
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 18/04/2007, Rio, p. 18

Inspetora de polícia, que se elegeu deputada federal, nega que tenha recebido dinheiro de Capitão Guimarães.

BRASÍLIA. Um relatório reservado do serviço de inteligência da Polícia Federal informa que o grupo do bicheiro Ailton Guimarães, o capitão Guimarães, fez pagamentos para a campanha eleitoral da deputada federal Marina Maggessi (PPS-RJ). Trechos do documento, a que o GLOBO teve acesso, mostra que os pagamentos foram intermediados por dois policiais civis: Marco Antônio dos Santos Bretas, o Marcão, e outro identificado como Fernando Salsicha, que é inspetor de polícia e já trabalhou na equipe de Maggessi em algumas delegacias especializadas. O texto relata ainda que os pagamentos do bicheiro, associado ao sobrinho Júlio Guimarães, continuaram mesmo depois das eleições e que, a partir daí, os policias ligados a deputada passaram a ameaçar os bicheiros.

¿No período compreendido entre agosto de 2006 e fevereiro de 2007, no Rio de Janeiro, a organização criminosa investigada, através de ação determinada por Ailton Guimarães, vulgo Capitão Guimarães, e seu sobrinho, Júlio Guimarães Sobreira, ambos ligados a ABERJ, atenderam a solicitação de vantagem indevida - sob título de contribuição para a campanha eleitoral da inspetora da Policia Civil Marina Maggessi de Souza para o cargo de deputada federal formulada pelo policial civil Fernando vulgo Salsicha¿, diz relatório da PF encaminhado ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza.

Marina diz que sua campanha foi ¿paupérrima¿

Capitão Guimarães e Júlio Guimarães estão presos desde sexta-feira passada. Eles fazem parte da organização acusada pela Operação Hurricane da PF de subornar magistrados, policiais e outros servidores públicos em troca de decisões judiciais favoráveis as bancas do bicho e as casas de bingo no Rio.

¿Após a eleição da deputada, Fernando prosseguiu formulando as solicitações ao grupo criminoso em nome da deputada e usando como forma de pressão suposta investigação que estaria em curso na Polícia Civil do Rio de Janeiro em relação a Júlio Guimarães¿, sustenta a PF. As negociações e as ameaças estão registradas em conversas gravadas pela polícia com autorização judicial. Numa das gravações, conforme a polícia, aparece até a voz da própria deputada.

Marina Maggessi negou ontem que tenha recebido dinheiro de qualquer organização criminosa para financiar a sua campanha. Ela disse que sua campanha foi ¿paupérrima¿, tendo custado R$69 mil. A deputada disse desconhecer o teor da investigação da PF, mas considera ¿normal¿ que Fernando Salsicha converse com Marcão, uma vez que são policiais.

¿ Acho normal o Fernando conversar com o Marcão. Todo mundo conversa com ele. A última vez que o vi foi numa festa de fim de ano. O que estranho muito é alguém dizer que minha campanha teve dinheiro de um grupo criminoso, se minha campanha foi tão miserável ¿ disse Marina.

Grupo controla também trabalho da polícia

As escutas telefônicas mostram ainda que o grupo do capitão Guimarães controla o trabalho da polícia. Segundo a Polícia Federal, por meio de ligações telefônicas, que foram interceptadas com autorização judicial, Marcos Antônio dos Santos Bretas, o Marcão, solicita ao policial civil Cláudio Augusto Reis de Almeida, conhecido como Claudinho, a mando de Júlio Guimarães, que seja interrompida uma diligência policial que estaria atrapalhando ¿os negócios (bingo) em Caxias¿, na Baixada Fluminense.

Cláudio, segundo a PF, lotado na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO), pede para seu chefe identificado como ¿Gordo¿ para que interrompa a diligência, no que, de acordo com as investigações, foi atendido.

Uma gravação telefônica mostra ainda Júlio Guimarães, pedindo que Marcão trate de uma escuta telefônica em um número de celular. Marcão retorna e informa que está acertado, mas que a escuta teria de ser por 15 dias. Os dois chegam a negociar o valor do serviço, que fica em ¿2.0¿, o que os policiais acreditam ser R$2 mil.