Título: PF protesta e pára investigações
Autor: Brígido, Carolina e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 19/04/2007, O País, p. 3

Cerca de nove mil policiais aderem à greve de 24 horas; governo recebe categoria hoje.

APolícia Federal paralisou ontem seus serviços em todo o Brasil, deixando de investigar e provocando filas em aeroportos. A greve de 24 horas foi feita para cobrar reajuste salarial que teria sido prometido pelo governo para o ano passado, mas ainda não foi pago. Segundo a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), cerca de nove mil delegados, agentes, peritos, escrivães e papiloscopistas cruzaram os braços durante o dia inteiro. Hoje, a categoria tem um encontro com a equipe técnica dos ministérios do Planejamento e da Justiça, e ameaça fazer nova greve, desta vez por tempo indeterminado, caso não seja apresentada uma proposta concreta de pagamento do reajuste.

A paralisação resultou em filas nos aeroportos de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador e Porto Alegre, além dos pontos de fronteira em Uruguaiana e Foz do Iguaçu, onde foram feitas operações-padrão. Também ficaram prejudicados os andamentos da Operação Hurricane (Furacão, em inglês), que prendeu bicheiros, donos de casas de bingo, advogados, policiais e autoridades do Judiciário na sexta-feira passada.

Até diretor de Inteligência adere

Sem os policiais responsáveis pela condução das investigações, deverá ficar atrasada a preparação dos laudos e os depoimentos de parte dos 25 presos na ação. As duas toneladas de documentos apreendidos durante a operação ficaram ontem intactas. Até o diretor de Inteligência da corporação, Renato da Porciúncula, que coordena a Operação Hurricane, aderiu à paralisação.

- Estamos dando apoio ao movimento - disse Porciúncula.

O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink, disse que a Operação Furacão não foi prejudicada:

- Os colegas que estão participando da operação Furacão aderiram ao movimento, mas os que tinham prazo voltaram ao trabalho logo.

Para marcar o protesto, um grupo de cerca de 500 policiais fez ontem uma caminhada da sede da PF, em Brasília, até o Ministério do Planejamento. Chegando ao local, o grupo não foi recebido pelo titular da pasta, Paulo Bernardo. Mas o ministro aceitou conversar com os deputados Laerte Bessa (PMDB-DF) e Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), que são policiais e acompanhavam a passeata. Aos dois, o ministro prometeu reabrir as negociações sobre o reajuste salarial. Diante dessa possibilidade, a categoria reclamou ainda mais:

- Reabrir as negociações é um retrocesso. Temos um papel timbrado com a promessa do governo de conceder um reajuste de 60% em 2006. Queremos que isso seja cumprido - disse o presidente da ADPF, Sandro Torres.

Segundo Torres, o compromisso firmado pelo governo foi feito em 2005 e deveria ter sido cumprido em duas parcelas no ano passado. O reajuste equipararia os salários dos delegados aos de procuradores da República. No entanto, os policiais federais teriam recebido apenas a primeira parcela, de 30%, em junho. A segunda não teria prazo para aparecer nos contracheques. Outra reclamação é o fato de que, com a primeira parcela, o governo também teria cortado gratificações expressivas dos policiais, especialmente os que já estão no fim da carreira.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não quis comentar a greve. O Ministério do Planejamento também não se pronunciou.

Apesar da larga adesão ao protesto, o presidente da ADPF disse que a corporação manteve 30% do pessoal na ativa para garantir a prestação de serviços urgentes à população. Até segunda ordem, a categoria deve voltar ao trabalho hoje.