Título: Mesada dos policiais
Autor: Carvalho, Jaílton de e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 19/04/2007, Rio, p. 13

Pagamento de suborno tinha data marcada: dia 15 de cada mês

BRASÍLIA. A investigação da Polícia Federal revela que os negócios da máfia dos caça-níqueis se mantinham à base do pagamento de um "mensalinho" a policiais militares, civis e federais, além de outras autoridades. O relatório que resultou na Operação Hurricane diz que, para manter as atividades ilícitas, o grupo pagava "uma espécie de pro-labore a policiais". Os pagamentos tinham como objetivos obter dos agentes informações privilegiadas sobre operações de apreensão de caça-níqueis, evitar fiscalizações e até a escolta no transporte de grandes quantias da quadrilha.

Segundo a investigação, o "mensalinho" dos policiais era operado pelo policial civil Marco Antônio dos Santos Bretas, o Marcão, preso na sexta-feira passada. Marcão é apontado pela PF como o homem de confiança de Júlio César Guimarães, sobrinho de Ailton Jorge Guimarães, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba (Liesa). A PF afirma que Marcão era responsável, juntamente com uma equipe de policiais civis, por recolher dinheiro dos donos de bingos e pagar as propinas, geralmente, no dia 15 de cada mês.

A PF fez a operação no dia 13 (sexta-feira) porque sabia que o "mensalinho" seria pago no dia 15 e, com isso, os policiais esperavam encontrar muito dinheiro (foram apreendidos mais de R$15 milhões). Na folha de pagamentos, constavam os delegados federais Susie Dias de Mattos e Luiz Paulo Dias de Mattos (aposentado), que também estão presos em Brasília. Eles são acusados pela PF de vazar informações sobre operações da polícia. Em uma escuta que consta do relatório, realizada no dia 9 de outubro do ano passado, eles revelam a movimentação de agentes federais a Marcão.

Na tarde daquele dia, Marcão recebe informações de Luiz Paulo, que fora avisado por sua mulher. Susie, por sua vez, teria recebido as informações de uma mulher identificada como Sheila. "Olha só. Eu recebi um telefonema da Sheila agora (...) Que saiu um pessoal hoje nove horas da manhã, para uma operação, e só volta amanhã. Ninguém sabe o que é", diz Susie a seu marido. Menos de dois minutos depois, Luiz Paulo repassa a informação a Marcão: "Tem que ficar esperto!". O policial civil agradece: "Valeu queridão. Um abraço". (Alan Gripp e Jailton de Carvalho)