Título: Brasil vai a corte internacional se Bolívia tomar refinarias da Petrobras
Autor: Tavares, Mônica e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/04/2007, Economia, p. 22

Lula avisou a Morales que empresa cortará investimentos no país vizinho.

BRASÍLIA, VILLAMONTES e LA PAZ. As relações entre Brasil e Bolívia chegaram a um impasse. Fontes próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva informaram ontem que o governo encerrou as gestões diplomáticas para tentar evitar a estatização, sem indenização justa, de duas refinarias da Petrobras no país vizinho. A decisão foi informada pelo próprio Lula ao colega boliviano, Evo Morales, em encontro tenso terça-feira, na Venezuela. Caso a ameaça boliviana se confirme em 1º de maio, a Petrobras tem carta branca para recorrer a uma corte internacional e fazer valer seus direitos.

Na reunião, Lula advertiu Morales que a Bolívia sofrerá represália se insistir: ele acenou com a possibilidade de o Brasil cortar todos os investimentos da Petrobras, que assim se retiraria daquele mercado, e desestimular empresas brasileiras a aplicar no país vizinho.

A avaliação do governo é de que, por trás da disposição de Morales, está o incentivo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Lula também lembrou ao boliviano que sem a Petrobras haveria dificuldades técnicas de operação nas refinarias. Morales ficou surpreso com a rispidez.

Ontem, Lula se reuniu com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Eles montaram a estratégia de reação. Gabrielli deu o tom:

- Se não tiver a indenização justa e prévia, vamos usar todos os mecanismos para defender nossos pontos de vista. Qualquer empresa faria isso para defender seus interesses.

Segundo uma fonte, a proposta é indenizar a Petrobras pelo valor contábil das duas refinarias, não pelo valor de mercado, desconsiderando os investimentos realizados. Essa proposta é recusada pelo Brasil desde o ano passado.

Na Bolívia, um morto e gás cortado para a Argentina

Uma pessoa morreu na noite de terça-feira e cerca de 20 ficaram feridas em confrontos ocorridos ontem e anteontem entre o Exército e as populações das cidades bolivianas de Villamontes e Yacuiba. Na noite de ontem, manifestantes em Yacuiba conseguiram tomar o controle de uma estação de petróleo, saquearam-na e cortaram o fornecimento de gás para a Argentina, na disputa pela posse de um campo de hidrocarbonetos (petróleo e gás) com uma província vizinha.

O porta-voz da Presidência da Bolívia, Alex Contreras, confirmou que o envio de gás à Argentina foi cortado presumivelmente pelos manifestantes, que também queimaram dois veículos da Transredes (da anglo-holandesa Shell e da britânica Ashmore):

- Para evitar um maior enfrentamento e um maior derramamento de sangue, as forças armadas e a polícia foram instruídas a deixar o campo. Lamentavelmente, depois manifestantes entraram.

O ministro de Governo da Bolívia, Alfredo Rada, garantiu que as válvulas foram fechadas pela Transredes depois da invasão.

Yacuiba e Villamontes ficam no Sul do país, na província de Gran Chaco, a mais rica em hidrocarbonetos, onde a Petrobras e outras multinacionais têm negócios. Gran Chaco, que fica em Tarija, insiste que Chimeo, onde fica o megacampo de gás Margarita, administrado pela hispano-argentina Repsol, está em seu território. Mas a província de O"Connor afirma que a localidade lhe pertence. A disputa envolve o repasse de cerca de US$25 milhões anuais.

O ministro da Defesa, Walker San Miguel, disse que o governo não deu ordem de "usar armamento letal", somente gases lacrimogêneos. Os dirigentes locais, porém, denunciaram que o Exército empregou balas normais e de borracha. Os manifestantes bloqueiam as estradas para Paraguai e Argentina.

(*) Com agências internacionais