Título: Jarbas, do PMDB: 'Temos o dever de resistir'
Autor: Vasconcelos, Adriana e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 20/04/2007, O País, p. 3

"Não vamos repetir o equívoco da oposição na Venezuela, que abriu mão do enfrentamento parlamentar".

BRASÍLIA. Momentos antes de o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), ser recebido ontem em audiência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) subiu à tribuna para cobrar uma reação dos partidos de oposição e dissidentes da base governista diante da estratégia do governo "de se tornar uma unanimidade e de cooptar a todos". Para o ex-governador de Pernambuco, o Senado deveria ser a principal trincheira de resistência "à submissão total aos interesses" do Planalto.

-- Temos o dever de resistir. Insisto na tecla de que o nosso papel como oposicionistas é essencial para a democracia brasileira. Não vamos repetir o equívoco cometido pela oposição na Venezuela, que abriu mão do enfrentamento parlamentar, permitindo que o governo do presidente Hugo Chávez estabelecesse uma vitória por WO, para usar uma metáfora futebolística, que o presidente Lula aprecia tanto - advertiu Jarbas, de um partido que apóia o governo e tem cinco ministros.

Conclamando à unidade as forças oposicionistas, o senador comparou o atual quadro político com o registrado durante o regime militar:

- Nosso papel na oposição é parecido com aquele dos 21 senadores que aceitaram se filiar, há 41 anos, ao MDB, viabilizando a organização de um partido de resistência ao regime militar. Hoje vivemos uma situação desconfortável, uma situação desfavorável, mas não devemos tergiversar, temos a obrigação moral e cívica de não capitular.

Admitindo que não é fácil ser oposição diante de um presidente tão popular e de um governo conquistado legitimamente, disse:

- A história da Humanidade mostra que muitas vezes o autoritarismo nasce de episódios aparentemente banais, respaldados numa pretensa inspiração popular. (...) Em nome do povo já foram cometidos os mais bárbaros desatinos da natureza humana.

Para Jarbas, o momento é de unir forças:

- O PSDB, o DEM, o PPS, o PV, o PSOL e os dissidentes de outras legendas como o PMDB e o PDT precisam atuar mais de forma conjunta. Essa união não implicaria aliança com objetivos eleitorais, mas é necessária para enfrentar a coalizão governista.

Jarbas levantou ainda suspeitas sobre a discussão sobre o possível fim da reeleição:

- Se a oposição abdicar do seu papel, as implicações dessa lamentável decisão serão sentidas no futuro, pois o presidente Lula talvez não queira apenas eleger seu sucessor, mas, com o fim da reeleição, se manter na Presidência da República - advertiu.