Título: Lula chama PSDB ao Planalto
Autor: Vasconcelos, Adriana e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 20/04/2007, O País, p. 3

Às vésperas da instalação da CPI do Apagão Aéreo, presidente recebe Tasso Jereissati.

Às vésperas da instalação da primeira CPI de seu segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem, no Palácio do Planalto, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). O convite para a audiência, que não estava agendada, partiu do próprio Lula, que pediu para a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, chamá-lo, ontem de manhã. A líder governista adiantou que o presidente gostaria de discutir assuntos de interesse do país, entre eles a necessidade de prorrogação da CPMF.

Tasso foi à reunião com Lula acompanhado de Roseana, que permaneceu somente numa parte da audiência. Além deles, estava presente o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. O tucano disse que eles não discutiram a instalação da CPI nem o fim da reeleição. No entanto, Tasso afirmou depois que, na saída do encontro, Lula disse que respeita a posição do PSDB, favorável à instalação da CPI. De acordo com Tasso, o debate se deu sobre a prorrogação da CPMF e da DRU (Desvinculação das Receitas da União).

- O presidente disse que considera a aprovação desses dois dispositivos fundamentais para a governabilidade - declarou Tasso, que contou ter dito a Lula que a oposição está aberta ao diálogo, embora defenda a redução gradativa da CPMF e o compartilhamento da arrecadação com estados e municípios:

- Eu lhe falei sobre nossas restrições e disse que teria um diálogo aberto em tudo o que for relacionado à governabilidade.

Ainda segundo o tucano, Lula disse que não concorda com a partilha da CPMF, mas afirmou que o governo está aberto ao diálogo.

Para Tasso, o encontro foi bom.

- É uma relação institucional. É positivo para o país - disse. - É preciso ter uma relação civilizada e de diálogo entre a oposição e o governo. Isso não deveria ser surpresa.

"Aceitei por polidez democrática"

Antes de ir ao Planalto, Tasso fez questão de comunicar o fato pessoalmente aos seis governadores do partido, aos líderes no Congresso e aos presidentes dos diretórios regionais. Tasso só não conseguiu falar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que vem cobrando uma postura mais contundente do partido em relação ao governo Lula. O ex-presidente estaria no exterior.

- Resolvi aceitar o convite por um gesto de civilidade e polidez democrática. A vocação do PSDB é de estar sempre aberto para o diálogo, mas isso não significa aproximação ou acordo para discutir a eleição - disse Tasso, antes de se dirigir ao Planalto. - Não será uma visita ao gabinete do presidente que fará o PSDB mudar suas convicções. Fomos eleitos para fazer oposição do primeiro ao último dia do governo Lula e qualquer mudança nessa postura seria uma traição aos nossos eleitores.

O gesto foi respaldado imediatamente pelo líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP):

-Numa democracia, o diálogo entre adversários não deve causar estranheza. Pelo contrário, é desejável.

No DEM, principal aliado dos tucanos na oposição, a notícia surpreendeu, embora na semana retrasada Lula tenha recebido para um café da manhã o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). Neste encontro, Lula reafirmou o interesse em estabelecer um diálogo com a oposição.

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), reiterou que seu partido não tem a mesma disposição dos tucanos para se sentar à mesa com Lula, mas disse que a ida de Tasso ao Planalto não abalaria a relação entre as legendas.

- Não queremos tomar cafezinho com o presidente, mas soluções para os problemas nacionais, como a crise aérea. Entendemos que o diálogo com a oposição pode ser feito no Congresso por intermédio dos líderes partidários, mas cada partido toma suas decisões e não cabe a nós julgá-lo - afirmou Rodrigo Maia.

De manhã, durante reunião do Conselho Político, do qual participam representantes dos 11 partidos governistas, Lula deu como fato consumado a instalação de CPI que pretende investigar a crise no setor aéreo e denúncias de irregularidades na Infraero. Reconhecendo que a CPI já é uma realidade, orientou os aliados.

- A CPI está aí, temos que nos preparar e nos organizar para enfrentá-la - disse o presidente, de acordo com um dos líderes presentes.

Lula lamentou o funcionamento das CPIs, mas afirmou que "o que mais preocupa" é que as investigações podem mudar o foco do debate e atrapalhar o Congresso e o governo, que devem concentrar suas energias nas medidas que geram desenvolvimento e nas propostas de interesse da sociedade, como os projetos da segurança pública.

Os líderes da base consideram que o melhor cenário seria a realização de uma única CPI na Câmara, onde o governo tem maioria. Mas consideraram que, diante da disposição da oposição no Senado de criar a CPI, passou a ser fundamental o funcionamento também da CPI na Câmara.

A expectativa do governo é que as duas CPIs comecem simultaneamente. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fará a leitura do requerimento na sessão do Senado de terça-feira, e o STF deve decidir sobre a CPI da Câmara no dia seguinte.