Título: Suspeito de integrar máfia trabalha na Assembléia
Autor: Rocha, Carla e Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Rio, p. 12

Polícia Federal diz que um inspetor lotado no gabinete de Jorge Picciani, presidente da Alerj, recebia propinas.

Inspetor de Polícia Civil lotado no gabinete do presidente da Alerj, deputado estadual Jorge Picciani (PMDB), Miguel Laíno, segundo a Polícia Federal, recebia pagamentos mensais da máfia dos bingos, no Rio. Laíno figura numa lista com cem nomes de policiais suspeitos de envolvimento com o esquema montado pelo contraventor Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa), e seu sobrinho Júlio Sobreira Guimarães.

O inspetor Miguel Laíno aparece em diversas escutas telefônicas falando com o policial Marcos dos Santos Bretas, preso durante a Operação Hurricane. Bretas é apontado como principal elo entre os contraventores e policiais que recebiam propina para não reprimir a exploração de bingos e caça-níqueis. A relação com cem nomes de policiais foi descoberta a partir da análise do HD do computador apreendido no apartamento de Júlio Guimarães. Na memória do equipamento, além de nomes, cargos e valores dos pagamentos mensais, aparecem fotos dos beneficiados pelo esquema. As imagens, segundo a PF, eram gravadas a partir de câmeras instaladas no escritório de Júlio, que ocupava cargo de coordenador dos jurados da Liesa.

Além do HD de Júlio, os peritos da PF analisaram o pen drive apreendido com o inspetor Marcos Bretas. Nele, os policiais encontraram uma lista com informações detalhadas dos policiais ligados ao esquema de corrupção. Os dados teriam sido retirados da Rede Medusa, o sistema de identificação usado pela Polícia Civil.

A descoberta comprova que Marcos Bretas usava a estrutura da instituição em benefício do esquema de corrupção. Prova disso é que, em julho de 2006, Bretas deu dinheiro a Miguel Laíno, lotado na Delegacia de Defraudações. Em troca, queria dados sobre ações policiais que pudessem prejudicar os donos do Bingo Saens Peña: Licínio Soares Bastos e Laurentino Freire dos Santos. A dupla, segundo a PF, é ligada aos contraventores Aniz Abrão David e Capitão Guimarães.

De acordo com as investigações, Marcos Bretas também contava com os serviços do policial Cláudio Augusto Reis de Almeida. As escutas revelam que Reis de Almeida deveria interferir em um inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Ainda segundo os agentes, Reis de Almeida recebeu a missão de abortar uma operação que prejudicaria bingos de Caxias.

A lista não cita apenas inspetores. A relação também traz nomes de delegados que recebiam valores mensais para obstruir investigações em benefício dos contraventores. As propinas pagas variavam de R$1 mil até R$30 mil. Há casos em que valores adicionais eram pagos, como aconteceu com Miguel Laíno. O inspetor, lotado no gabinete do deputado Jorge Picciani, recebeu um adicional de R$5 mil por ter dado informações sobre uma investigação sobre o Bingo Tijuca. A PF está fazendo o reconhecimento das fotos e dos citados para pedir a prisão dos suspeitos.

A assessoria de Jorge Picciani disse que Miguel Laíno trabalha como segurança no gabinete do deputado. Ainda segundo a assessoria, enquanto não houver prova contra o policial, ele será mantido no cargo.

A Polícia Civil informou que os nomes dos agentes suspeitos serão investigados pela Corregedoria Geral Unificada.