Título: Na porta da Alerj
Autor: Rocha, Carla e Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Rio, p. 12

A MÁFIA OFICIAL

PF diz que policial repassava ajuda de bicheiros e donos de bingos a políticos.

As escadarias do Palácio Tiradentes, onde funciona a Assembléia Legislativa do Rio, serviam de ponto de encontro do esquema de financiamento de campanhas eleitorais pelo jogo do bicho e por donos de bingos. Os "grampos" da Operação Hurricane, da Polícia Federal, revelam que o policial civil Marco Antônio dos Santos Bretas, um dos 25 presos no caso que desnudou um esquema de corrupção do Judiciário, marcava com assessores de deputados - alguns candidatos à reeleição - para entregar um "negócio" enviado pelo contraventor e dono de bingo Júlio César Guimarães Sobreira, sobrinho do bicheiro Capitão Guimarães. Para a polícia, as encomendas podiam ser desde material de campanha, como camisetas, até ajuda financeira.

Nas conversas, Marcão - como o policial era conhecido - diz que representa Júlio, secretário-geral da Associação de Bingos do Rio (Aberj), e o próprio Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa). As escutas mostram ligações telefônicas do policial para assessores dos políticos suspeitos de terem sido beneficiados pela contravenção.

O esquema, de acordo com a PF, teria começado em 4 de setembro do ano passado. Entre os nomes de políticos citados, estão alguns peemedebistas como o atual secretário estadual de Habitação, Noel de Carvalho. Ele não foi localizado ontem para comentar a gravação.

Procurador: pedido de investigação

Ontem, o "RJTV" segunda edição, da Rede Globo, mencionou o nome de outros sete que teriam recebido dinheiro: os deputados Domingos Brazão (PMDB); Álvaro Lins (PMDB), ex-chefe de Polícia Civil; Marcos Abrahão (PSL); e João Pedro Figueira (DEM), que foi coordenador das campanhas do prefeito Cesar Maia; a ex-deputada Alice Tamborindeguy (PSDB), Iranildo Campos (PP) e o pastor Paulo Tarso, que não se reelegeram.

Antes de esses nomes virem à tona, já havia sido divulgada parte de um trecho de escuta que envolve a inspetora licenciada e atual deputada federal Marina Maggessi (PPS). Nela, o policial civil Fernando, conhecido como Salsicha, aparece pedindo ajuda para a campanha da candidata.

Ontem, o procurador regional eleitoral do Rio, Rogério Nascimento, comentou as acusações. Ele disse que vai aguardar as informações da Polícia Federal e, em seguida, pedir uma nova investigação, dessa vez da Justiça Eleitoral. Os políticos poderão ter os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados e vão ter as prestações de contas de campanha novamente analisadas.

Num dos diálogos, Marcão faz contato com Sérgio, que seria assessor de Noel de Carvalho, e combina com ele um encontro na entrada da Alerj. Segundo o relatório da PF, Marcão, no telefonema, pergunta se Sérgio está na assembléia, porque quer entregar "aquele negócio que o Júlio Guimarães mandou". Sérgio responde que está na 15ª DP (Gávea) e que vai ligar para o deputado, porque tem que falar com ele. Diz que retorna para Marcão quando tiver uma posição. Sérgio termina afirmando que vai ao encontro do policial. O mais próximo assessor de Noel de Carvalho era Sérgio Lopes, que morreu no ano passado.

Em outro trecho da escuta, Marcão pede a uma mulher identificada como Janice o contato de uma assessora de Alice Tamborindeguy, chamada Marilena. O policial civil ainda teria organizado o apoio para a então deputada, numa festa na Liesa. Teria obtido também apoio para os deputados Marcos Abrahão e Domingos Brazão.

Há ainda uma conversa entre Marcão e uma pessoa identificada como Luís, sobre o recolhimento de dinheiro para um almoço em prol do então candidato Álvaro Lins. Marcão teria organizado um almoço de adesão, em Niterói, e os convites teriam que ser distribuídos entre delegados e seus parentes. Na conversa, Marcão diz que separaram o "negócio" de Álvaro. Ele diz então que leva o numerário para Luiz "amanhã". Marcão pergunta se está faltando algum e se alguém da unidade deles comprou ou se vai ter que comprar. O policial também conversa com o vereador Marival Gomes.

Ontem, os deputados Álvaro Lins e João Pedro Figueira negaram as acusações. João Pedro disse, por intermédio de sua assessoria, que não entende por que seu nome foi citado nessa investigação. O deputado Domingos Brazão não foi encontrado até o final da noite de ontem.

COLABOROU: Marco Antônio Martins (Extra)