Título: Investigações poderão chegar ao Congresso
Autor: Gripp, Alan e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Rio, p. 13

A MÁFIA OFICIAL: Quadrilha buscava aproximação com políticos para tentar aprovação de projetos de seu interesse.

Declaração do ministro da Justiça, Tarso Genro, causa reação na Câmara e desagrada a presidente da Casa.

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que a Operação Hurricane, que já prendeu 25 pessoas, terá prosseguimento. Ele afirmou não saber detalhes das próximas investigações, mas disse que não se surpreenderia se elas incluírem o Congresso Nacional.

O inquérito que deu origem à operação revela que a máfia dos caça-níqueis tentava uma aproximação com parlamentares, para tentar aprovar projetos de interesse do grupo, entre eles o de legalização dos bingos no país.

- Não tenho essa informação ainda (de que o Congresso será alvo da PF), mas não me surpreenderia porque isso (investigação de parlamentares) já ocorreu em outras oportunidades. Aliás, procuro não ter informações dos inquéritos que tenham qualquer tipo de conotação política - disse Tarso.

Declaração de ministro provoca reação na Câmara

A declaração do ministro e a revelação de que os empresários de jogos buscavam contatos no Congresso provocaram reação imediata na Câmara. O líder do PDT, deputado Miro Teixeira (RJ), pediu ao presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) que peça a transferência do sigilo do inquérito para a Casa, para que os parlamentares tenham acesso à investigação.

- Nem que seja apenas a parte que diz respeito aos parlamentares. A Casa tem que se antecipar, não pode ficar de braços cruzados e ver o que acontece, quando já se fala em envolvimento de parlamentares no esquema mafioso - disse Miro.

Chinaglia avisou que vai analisar o pedido e deixou claro que não gostou das declarações do ministro:

- Em tese, (as investigações) poderiam chegar ao Executivo, à Igreja, à imprensa... Isso coloca todos no mesmo nível. Não posso crer que o ministro possa colocar o Congresso sob suspeita, sem provas.

O líder da oposição na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS), também reagiu irritado:

- Senhor ministro, por favor, passe ao conhecimento da população qualquer elo entre deputados e a máfia do jogo. Eu também não me surpreenderia se fosse verdade, mas venha aqui e denuncie e apresente os nomes - disse Redecker.

O deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), ex-secretário de Segurança do Rio, condenou o recebimento, por políticos, de doações feitas pelo jogo do bicho e por casas de bingo:

- Não é correto receber dinheiro espúrio, doação que não seja aquela registrada no Tribunal Regional Eleitoral.

Objetivo era conseguir aprovação no Congresso

De acordo com o "Jornal Nacional", da Rede Globo, um dos objetivos da organização criminosa era conseguir a aprovação de um projeto que autoriza estados a explorar loterias. O projeto, que ainda tem de ser votado na Câmara, foi aprovado no Senado em 8 de fevereiro.

Três dias antes, o presidente da Beija-Flor de Nilópolis, Aniz Abraão David, o Anísio, pediu a um funcionário os telefones do deputado Simão Sessim (PP-RJ) e de um senador. Os números fornecidos pelo funcionário foram checados pela PF e são do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que disse não querer falar sobre o assunto. Simão Sessim, primo de Anísio, negou envolvimento com a organização criminosa.

Ainda segundo o JN, não há, no inquérito, registro de conversas entre o senador ou o deputado com envolvidos no esquema. Numa das gravações, feita um dia depois da votação no Senado, um dos acusados de chefiar a quadrilha comemorou a aprovação e adiantou que o projeto também seria aprovado pelos deputados.