Título: Acusados movimentaram R$230 milhões
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Rio, p. 14

A MÁFIA OFICIAL: STF decreta bloqueio de bens de 50 pessoas investigadas pela PF dentro da Operação Hurricane.

Acusados movimentaram R$230 milhões.

Autoridades impediram que empresário ligado aos bingos sacasse R$4 milhões, horas após primeiras prisões.

BRASÍLIA. Relatório reservado do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informa que 17 dos 25 presos pela Polícia Federal na Operação Hurricane, desencadeada sexta-feira passada, fazem parte de um grupo que movimentou, aproximadamente, R$230 milhões em condições atípicas nos últimos seis anos. O documento sobre as transações foi encaminhado pelo Coaf ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, entre outras instituições, que tratam de investigações financeiras. O cerco às contas de integrantes da organização conseguiu impedir saques de aproximadamente R$4 milhões, que um empresário ligado aos bingos tentou fazer numa agência bancária em Niterói, na sexta-feira, horas depois das primeiras prisões.

Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou o bloqueio das contas de 50 pessoas investigadas pela Hurricane. Na última segunda-feira, o ministro Cezar Peluso, relator do caso no STF, já havia determinado a suspensão do saque de R$4 milhões. Na sexta-feira passada, dia das prisões, integrantes do Coaf suspeitaram do pedido de saque de um valor tão expressivo e repassaram as informações ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza.

Suspeitos estariam tentando salvar parte dos recursos

A suspeita é de que integrantes da organização estariam tentando salvar parte dos recursos disponíveis em conta, antes da ação da PF para bloquear seu patrimônio. Com base nesses dados, Souza pediu e Peluso concordou em sustar o saque. A partir daí, numa troca de informações com a Polícia Federal, o procurador solicitou e Peluso ordenou o bloqueio das contas bancárias de 50 pessoas. A ordem alcança as contas dos 25 magistrados, bicheiros, policiais e advogados presos e de pessoas próximas aos acusados.

Os detalhes das movimentações de R$230 milhões nos últimos seis anos feitas por 17 integrantes do grupo, consideradas atípicas pelo Coaf, constam de sete relatórios que o conselho produziu e remeteu ao Ministério Público Federal e à polícia. Parte dessas informações estão na origem das investigações da PF que resultaram na Operação Hurricane, a principal ofensiva da polícia contra a corrupção no Judiciário.

A Polícia Federal também está fazendo o rastreamento de possíveis movimentações financeiras no exterior dos presos na Hurricane. Agentes que estão acompanhando de perto as investigações acham que a polícia não terá muita dificuldade no trabalho. Um dos presos, Licínio Soares Bastos, é cônsul honorário de Portugal.

O prazo da prisão temporária do grupo de 25 detidos termina na segunda-feira. Mas a PF avisou ao procurador-geral da República que, na sua avaliação, as provas seriam suficientes para sustentar um pedido de prisão preventiva de todos eles. A partir desses dados, o procurador-geral já estaria até preparando a denúncia que deve apresentar contra os acusados no STF.

Presidente do STJ pede cópia de inquérito

Ontem, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Raphael de Barros Monteiro Filho, pediu a Peluso uma cópia do inquérito da Hurricane. A partir da análise do material, Monteiro Filho decidirá se abre ou não uma investigação interna no STJ sobre o ministro Paulo Medina, irmão do advogado Virgílio Medina, um dos 25 presos na operação da PF. Segundo informações da polícia, Virgílio negociou uma liminar do irmão por R$1 milhão.

"Diante do noticiário que vem sendo veiculado na mídia, envolvendo membro desta Corte e com vistas a um posicionamento por parte do tribunal, solicito de vossa excelência informações e elementos referentes ao inquérito", diz o ofício de Monteiro Filho a Peluso. Os documentos devem chegar ainda hoje ao STF. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que defende o ministro, nega qualquer envolvimento de Paulo Medina com os negócios do irmão, classificado pela polícia como lobista.