Título: Regras rígidas no 1º dia de visitas
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Rio, p. 15

Parentes e amigos levam roupas e produtos de higiene para os presos.

BRASÍLIA. Roupas, toalhas, produtos de higiene, comidas, cartas, fotos e até livros de auto-ajuda. Um pouco de tudo recheava as sacolas de plástico levadas ontem para a carceragem da Polícia Federal, em Brasília, pelos parentes e amigos dos 25 presos da Operação Hurricane, no primeiro dia de visitas. Chamava a atenção um exemplar de ¿Heróis de verdade¿, do escritor Roberto Shnyashik, que figurava entre os objetos trazidos pelas famílias de Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e José Renato Granado.

O livro foi entregue a um dos presos com uma dedicatória de duas páginas feita na hora pelos parentes. Mas, de tudo o que foi levado, muita coisa ficou de fora. Os parentes de Granado, por exemplo, não puderam entrar com um tubo de pasta de dentes. Outros ficaram desapontados ao receberem de volta uma carta:

¿ Carta, só pelo Correio, senhora! ¿ informou o vigia que estava na portaria da PF.

Nada de comida que possa causar problemas estomacais

As regras de visitas da PF são rígidas. Nenhuma embalagem onde é possível esconder objetos é permitida. As restrições para comidas são um capítulo à parte: os presos podem receber, no máximo, quatro litros de suco em garrafa plástica transparente, um quilo de biscoito sem recheio e apenas quatro tipos de frutas, sendo quatro unidades de cada ¿ pêra, maçã, goiaba e banana. A explicação, nesses casos, está no aparelho digestivo: doces e outros produtos industrializados podem causar infecções estomacais, diz a PF. Cigarros, nem pensar.

Apesar de algumas manifestações de tristeza, o clima no local de espera das visitas estava mais próximo da resignação. Alguns parentes estavam mais preocupados em checar se haviam trazido tudo o que fora pedido pelos presos. Ao se dar conta de que havia esquecido remédios, a família de Capitão Guimarães escalou um advogado dele para a tarefa. Os objetos eram separados em sacolas plásticas identificadas com o nome do destinatário, mais uma regra a ser cumprida.

Também não foi permitido o contato físico entre as visitas e os presos. As conversas acontecem via interfone, no parlatório, separado por vidros. Cada um deles teve direito a receber duas pessoas e por, no máximo, uma hora. Ao deixar a PF, alguns parentes tiveram mais notícias ruins: não havia mais passagens de volta para o Rio, de onde partiu a maioria. A volta foi adiada para hoje.

Durante a madrugada, a Polícia Federal ouviu cinco dos 25 presos, que ainda não haviam prestado depoimento. A maioria preferiu manter-se em silêncio. O depoimento mais importante era o do policial civil Marcos Antonio Bretas, o Marcão, apontado pela PF como o responsável pelo pagamento de propinas da quadrilha.