Título: O dilema do novo presidente do BNDES
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Economia, p. 23

Luciano Coutinho ainda não escolheu quem vai administrar sua fortuna.

BRASÍLIA. Antes de dar o tom que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer para o BNDES, o economista Luciano Coutinho, indicado para a presidência do banco, tem um desafio: arranjar alguém para ser o gestor de seu milionário patrimônio. Isso porque não existe instituição financeira de grande porte atuando no Brasil que não seja agente repassador dos recursos do BNDES.

Pessoas próximas a Coutinho afirmam que esse é o dilema que mais o tem preocupado, desde que foi confirmado oficialmente como titular do banco, na última quarta-feira. Pela legislação em vigor, seus bens não podem ser administrados por instituições que sejam agentes do BNDES. Por isso, a sugestão que ele tem recebido é procurar alguma instituição no exterior.

O problema decorre do sucesso da consultoria de Coutinho, a LCA Consultores. A empresa atende a pesos pesados da economia, como AmBev, Petrobras, Bradesco, Gerdau, CPFL, BankBoston. E essa proximidade com o setor privado, especialmente o empresariado paulista, coloca Coutinho numa posição de destaque - tanto para o bem quanto para o mal. Seu colega de longa data, Luiz Gonzaga Belluzzo, considera Coutinho um dos mais preparados para o cargo.

- Há muito tempo, o BNDES não tinha um presidente com essa enorme capacidade de enxergar a longo prazo. Ele é um verdadeiro estrategista - elogia Belluzzo.

Eles se conhecem desde a época em que Coutinho era assessor de Ulysses Guimarães. Já o economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem uma visão inversa.

- Ele vai atuar como um despachante do empresariado paulista - ataca Gonçalves.

Coutinho pediu ontem ao atual presidente do BNDES, Demian Fiocca, que permaneça mais alguns dias no cargo. Antes de tomar posse, Coutinho - que passou todo o dia de ontem em São Paulo, em seu escritório na LCA - já decidiu que fará uma reunião geral com a diretoria para tomar pé da situação. A data do encontro e da solenidade de posse ainda não foi marcada.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou ontem claramente sua intenção de trazer Fiocca para sua equipe. Mantega já vinha trabalhando nos bastidores para encontrar um lugar na Fazenda para ele, caso suas gestões para mantê-lo no banco de fomento naufragassem. Com o anúncio oficial de Coutinho, o ministro abriu o jogo:

- Se o Fiocca quiser trabalhar aqui (na Fazenda), ele está convidado.

Na Fazenda, o cargo mais provável para Fiocca seria o comando do Tesouro Nacional. A secretaria hoje é chefiada por Tarcísio Godoy, que Mantega mantém como interino desde a saída de Carlos Kawall, em dezembro.

COLABOROU: Martha Beck