Título: Alta do PIB da China derruba bolsas no mundo
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 20/04/2007, Economia, p. 23

Economia cresceu 11,1% no 1º trimestre, superando estimativas, e governo pode elevar juros para frear expansão.

PEQUIM. A economia da China cresceu 11,1% no primeiro trimestre deste ano, atingindo 5,028 trilhões de yuans (US$651 bilhões), levando o governo a falar em superaquecimento ¿ e medidas de controle macroeconômicas mais duras ¿ pela primeira vez. A taxa ultrapassou as expectativas dos analistas, de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 10,4%. Superou também a expansão no ano passado (10,7%) e no trimestre anterior (10,4%).

O anúncio do PIB chinês derrubou as bolsas ontem. Para os investidores, chegou a hora de o governo tomar medidas mais duras para desaquecer a China, o que certamente incluirá uma alta maior dos juros básicos, hoje em 6,39% anuais. A Bolsa de Xangai caiu 4,52% e o índice japonês Nikkei, 1,67%. O mercado europeu também recuou. O índice DAX, da Bolsa de Frankfurt, caiu 0,54%.

Segundo Li Xiaochao, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas (ENE, o IBGE chinês), a alta do PIB foi resultado, principalmente, do forte desempenho das exportações, que somaram US$252,1 bilhões no primeiro trimestre (27,8% acima do mesmo período de 2006). Mesmo com a alta de 18% das importações, para US$205,7 bilhões, o superávit comercial chinês alcançou US$46,4 bilhões, o dobro dos US$23,1 bilhões do primeiro trimestre de 2006.

¿ Eu digo que a economia está crescendo muito rapidamente e, mantido esse desempenho no próximo trimestre, certamente estaremos rumando para o superaquecimento. Mas as autoridades saberão que medidas tomar para conter os indicadores ¿ disse Li Xiaochao.

Inflação de março superou a meta para o ano

Em 2006, o Banco Popular da China (o BC chinês) aumentou os juros duas vezes e, no início deste ano, elevou o depósito compulsório nos bancos para tentar tirar dinheiro de circulação ¿ sem sucesso. Além disso, a inflação de março atingiu 3,3%, a maior dos últimos dois anos e acima da meta do governo para o ano, de 3%. Em 2006, a inflação ficou em 1,5%, mas no primeiro trimestre deste ano já atingiu 2,7%. Até o primeiro-ministro da China, Wen Jioabao, falou sobre a aceleração da economia:

¿ A alta do crédito é muito rápida, os investimentos voltaram a acelerar e o superávit continua a crescer ¿ disse Wen. ¿ A China vai manter o controle sobre os investimentos e o comércio para evitar uma alta maior nos preços.

Segundo o porta-voz da ENE, ¿os problemas se mantêm na economia chinesa: desequilíbrio na balança de pagamentos, liquidez excessiva, estrutura econômica irracional e alta pressão para conservação de energia e redução das emissões poluentes¿.

Províncias não querem saber de pisar no freio

Mês passado, o Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA) afirmou que o crescimento da China seria mais moderado nos próximos dois anos, projetando 10% este ano e 9,8% em 2008. Bem acima dos 8% prometidos pelo governo. Para economistas, as metas são irreais porque as províncias, especialmente as mais pobres, não querem pisar no freio e o discurso de quem teme uma desaceleração rápida da China não tem fundamento.

¿ A idéia dos governadores é: ¿agora que chegou a minha vez de me beneficiar das reformas econômicas, por que devo crescer menos?¿ ¿ afirmou Paul Cavey, economista do banco australiano Macquarie.

Das 31 províncias, 22 estabeleceram metas de crescimento acima de 10% e quatro, acima de 12%. Segundo o Banco Mundial, até 20% do investimento total da China são feitos pelas províncias. Economistas lembram que o governo acaba fazendo vista grossa para a elite política comunista local porque esta representa sua própria base de sustentação. Para o governo chinês, está cada vez mais difícil convencer o mundo de que suas medidas para segurar a economia estão dando certo.