Título: 'Não basta ser contra os manicômios'
Autor: Lins, Letícia e Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 22/04/2007, O País, p. 4

Psiquiatra, antropólogo, sociólogo e com formação em teologia, o cearense Adalberto Barreto criou a terapia comunitária. O modelo está sendo usado na Europa. Ele diz que lá não achou favelas, mas "favelados existenciais".

O que há de verdadeiro no ditado popular: "Quando a boca cala, os órgãos falam"?

ADALBERTO BARRETO: No Brasil, as preocupações ainda continuam com a patologia, como tratá-la. Não basta ser contra os manicômios. Temos que estimular a criação de modelos que permitam investir na prevenção. Sempre que iniciamos uma sessão de terapia comunitária, usamos aquela frase da cultura brasileira. Ou seja, vamos falar com nossas bocas, para não termos que falar com depressão, gastrites, insônias e outras doenças.

Como a terapia comunitária induz a clientela a buscar caminhos para seus problemas?

ADALBERTO: Quando cheguei na favela em Pirambu, fui imediatamente procurado por umas 30 pessoas, atrás de remédios controlados para os nervos. Ao ouvi-los, concluí que estava diante muito mais de sofrimentos do que de patologias.

Como um modelo criado em meio a favelados pode ser usado em sociedades desenvolvidas, como a Suíça?

ADALBERTO: Na favela, lidamos com a miséria material que nutre a miséria psíquica. Já na Suíça, encontrei a miséria afetiva, o esfriamento das relações. Na Europa, não achei favelas miseráveis como as nossas, mas encontrei muitos favelados existenciais.