Título: Governo redesenha a geografia do poder petista
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 22/04/2007, O País, p. 9

Hegemônicos no primeiro mandato, paulistas agora perdem espaço para mineiros, gaúchos e nordestinos.

BRASÍLIA. O reinado do PT paulista no governo federal chegou ao fim no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos primeiros quatro anos de governo, eles - José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken - mandaram e desmandaram. A perda de poder dos paulistas abriu espaço para uma maior influência dos petistas mineiros, gaúchos e alguns nordestinos. A nova geografia do poder revela menor presença da principal tendência do PT, o Campo Majoritário, no núcleo de decisões, e a ascensão de petistas ligados diretamente ao presidente.

- O PT como um todo perdeu espaço no segundo mandato. O Campo Majoritário perdeu terreno - resume o deputado José Mentor (PT-SP), um dos integrantes da bancada da ministra do Turismo, Marta Suplicy.

A mudança ocorre num momento em que os petistas reclamam da perda de espaço para os novos aliados de Lula. Essa realidade transformou a reunião da bancada petista na Câmara, quarta-feira, num verdadeiro muro de lamentações.

- Lula humilha e debocha do PT - reclamou o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI).

- É um absurdo que o presidente não tenha se reunido ainda com a bancada do PT na Câmara - fez coro Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Projeto de Marta é a esperança do PT paulista

No primeiro mandato, Dirceu coordenava o governo; Palocci comandava a economia; Gushiken mandava na Comunicação; o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, administrava a Previdência; Márcio Thomaz Bastos conduzia a Justiça; Jorge Matoso reinava na Caixa Econômica Federal, e Cássio Casseb, no Banco do Brasil.

Um a um, eles foram caindo. O PT paulista tem hoje três cargos: Luiz Marinho, na Previdência, Guido Mantega na Fazenda - mais ligados a Lula do que ao partido; e Marta (Turismo), em cujo projeto pessoal estão penduradas as esperanças paulistas de retomada do poder.

Os gaúchos perderam em quantidade de um mandato para outro, mas estão mais poderosos. Tinham cinco ministros: Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Dilma Rousseff (Minas e Energia), Olívio Dutra (Cidades), Tarso Genro (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), e Emília Fernandes (Secretaria da Mulher). Com três pastas, ganharam em qualidade: Dilma foi para a Casa Civil, com a missão de ser a grande gerente do governo, e Tarso foi para a Justiça, além da manutenção de Guilherme Cassel no Desenvolvimento Agrário.

O PT do Nordeste ficou mais forte, principalmente por causa da eleição de Jaques Wagner na Bahia. Ele foi fundamental na escolha do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para a pasta da Integração Nacional e na manutenção de Sérgio Gabrielli na presidência da Petrobras.

O governador de Sergipe, Marcelo Déda, ampliou seu poder e está emplacando o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra na presidência da BR Distribuidora.

Os mineiros também deram a volta por cima. Iniciaram o primeiro mandato com Luiz Dulci na Secretaria Geral da Presidência e Nilmário Miranda na Secretaria dos Direitos Humanos, e terminaram com Patrus Ananias comandando a poderosa pasta do Desenvolvimento Social e administrando o Bolsa Família.

- O PT de São Paulo perdeu espaço. Isso significa que o presidente não tem mais tantos pára-raios. As crises estão caindo direto no colo dele, como ocorreu com a greve dos controladores de vôo - avalia o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

O grupo de Dirceu transformou a presidência da Câmara numa trincheira para defender as posições de mando que ainda mantém. Ainda alimenta a esperança de que, forte na Câmara, terá de ser tratado com reverência pelo presidente. Mas Lula não tem dado muitos sinais nesse sentido. Pelo menos até agora.