Título: Devassa na Delegacia Federal de Niterói
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/04/2007, Rio, p. 11

Todos os processos de expedição de passaportes nos últimos dez anos serão revistos

A prisão de dois agentes do setor de imigração da Delegacia de Polícia Federal de Niterói este ano, durante a operação Byblos, e a prisão do chefe da delegacia, delegado Carlos Pereira, na Operação Hurricane, vão levar a PF a fazer uma devassa na delegacia, anunciou o superintendente da PF no Rio, Delci Teixeira. Os policiais federais pretendem auditar o setor de imigração, revendo todos os processos dos últimos dez anos, além de verificar decisões assinadas pelo delegado.

- Vamos rever todos os procedimentos no setor de expedição de passaporte dos últimos dez anos. Vai demorar, mas é necessário depois da prisão dos agentes que trabalhavam no registro de estrangeiros - afirmou Delci.

A Operação Byblos foi desencadeada em março, levando à prisão 31 pessoas supostamente envolvidas em fraudes na concessão de passaportes. A operação, que começou a ser traçada em outubro do ano passado, mobilizou 300 agentes para cumprir 33 mandados de prisão e outros 44 de busca e apreensão na Região Metropolitana do Rio, Região dos Lagos e São Paulo. A PF também pediu à Interpol o recolhimento em diversas partes do mundo de 70 passaportes brasileiros obtidos supostamente de forma irregular.

Delci disse que o delegado Carlos Pereira já vinha sendo investigado há muito tempo, desde quando era lotado em Campos. O policial chefiou a Delegacia da PF de Campos, no norte do Estado do Rio. No dia da prisão de Pereira, o superintendente lembrou que a "PF tem que acompanhar seus servidores e todo desvio de conduta tem que ser apurado e penalizado. Se o servidor estiver fazendo um bom trabalho, deixa ele fazer o bom trabalho. Se ele estiver fazendo um mau trabalho, deixa ele com corda até que ele se enforque".

O nome de Carlos Pereira apareceu na Operação Planador, que começou a ser preparada, por ironia, pela PF em Campos, em 2001. Pereira era o chefe da delegacia de lá quando foi procurado por um policial seu que tinha uma denúncia grave a fazer: havia sido sondado para fazer parte de um esquema montado por outros agentes federais e despachantes para falsificação no setor de passaportes da PF, na Praça Mauá. O caso foi encaminhado à direção geral da PF, em Brasília, que resolveu infiltrar o tal agente na quadrilha. Nos grampos, um agente investigado que acabou preso cita um caso de corrupção envolvendo policiais federais de Campos.