Título: Uma união para combater o crime organizado no Rio
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/04/2007, Rio, p. 11

PF coordenará supercentral formada por homens das Forças Armadas, policiais federais e agentes da Abin.

Na semana em que a Polícia Federal realizou no Rio a Operação Hurricane (furacão, em inglês), a maior de combate à corrupção já feita no país, na qual foram presas 25 pessoas, entre desembargadores, juízes, delegados federais e parte da cúpula da contravenção do estado, o governo federal liberou recursos para implantar no Rio a primeira supercentral brasileira de combate ao crime organizado. Idealizada nos moldes do Federal Bureau of Investigation (FBI) americano, a central será formada por representantes da PF, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica). Na prática, é a formalização da força-tarefa de combate ao crime que sempre foi reivindicada pelo governo do estado.

Edital para licitações prevê obras orçadas em R$9 milhões

A supercentral será batizada de Centro Integrado e Compartilhado de Combate ao Crime Organizado (Cicor), e vai funcionar em instalações que serão especialmente construídas na Superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá. Um prédio será erguido para abrigar o Cicor. O anúncio foi feito ao GLOBO pelo delegado Delci Teixeira, superintendente da PF no Rio, que está completando um ano no cargo e pilota o projeto. Ele informou que, na próxima semana, será lançado um edital de licitação para o início das obras, orçadas em cerca de R$9 milhões. A supercentral terá ainda as participações de agentes escolhidos das polícias Civil e Militar do Rio; e da Polícia Rodoviária Federal. A principal meta do Cicor é reprimir o tráfico, o contrabando de armas e munição e a corrupção, sobretudo a que envolve policiais.

- Será uma Missão Suporte maior, com todas as instituições de segurança do país representadas. Teremos busca e troca de informações imediatas - adiantou o delegado Delci Teixeira.

A Missão Suporte - uma central de inteligência formada por cerca de 50 policiais federais de fora do estado - foi criada em 2003, no Rio, pelo delegado Luiz Fernando Correa, atual secretário nacional de Segurança Pública, para investigar a atuação de policiais no crime organizado e combater o tráfico de drogas e armas no estado. Um ano depois, suas atividades foram suspensas por falta de recursos.

Central vai enfrentar o novo perfil do crime organizado

O trabalho da Missão Suporte (que em quatro anos desbaratou uma série de quadrilhas que atuavam no Rio e em outros estados brasileiros) só foi retomado em maio de 2004 pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quando o Rio foi alvo de ataques de traficantes. O plano previa ainda - na época a governadora do Rio era Rosinha Matheus - o envio de dois mil homens do Exército em operações de cerco a áreas controladas pelo tráfico e em torno de bases militares da cidade, como tem reivindicado o governador Sérgio Cabral.

A instalação da supercentral de combate ao crime organizado atende a uma necessidade das autoridades de segurança de combater um novo perfil de criminoso no país, principalmente no Rio. Como mostrou a Operação Hurricane, o inimigo já não está apenas nas favelas, mas até nos poderes Judiciário e Legislativo.

O delegado federal Delci Teixeira disse que o Cicor vai contar com um sistema moderno de inteligência, com mais de 300 computadores. O sistema também permitirá à Polícia Federal monitorar um número ilimitado de ligações telefônicas no Rio e em qualquer outro lugar do país. Os computadores podem ainda arquivar o cadastro digital de bandidos e outros alvos de investigações, além de contar com um banco de vozes capaz de registrar e cruzar informações toda vez que uma pessoa voltar a ser interceptada em escutas telefônicas.

Pelo projeto, a central estará ligada a agências de inteligência instaladas na região Sudeste do país. A presença da Abin vai garantir a troca de informações com representantes de outros países. O Cicor contará com agentes federais treinados para atuar na contra-inteligência (a proteção dos dados sigilosos, assim como de seus agentes), na escuta telefônica e quebra de sigilo de e-mails.