Título: Na terra do petróleo, etanol é novo filão
Autor: Balbi, Aloysio
Fonte: O Globo, 22/04/2007, Economia, p. 25

Após decadência nos anos 80, setor atrai grupos nacionais, americanos e japoneses.

CAMPOS. A cidade brasileira que mais arrecada dinheiro com royalties do petróleo (a previsão para este ano é de R$1,3 bilhão), Campos, no Norte fluminense, prepara o terreno para retomar uma antiga vocação de sua economia: a cana-de-açúcar. A explosão da demanda por álcool - provocada pelo produção de combustível alternativo à base de etanol - está fazendo com que tanto a lavoura quanto o parque industrial, que mergulharam em profunda decadência no fim dos anos 80, voltem a ser prioridade de investidores.

De olho nesse filão, grandes grupos nacionais e estrangeiros estão se instalando no município, como o J. Pessoa, de São Paulo - que já montou uma usina em Campos e pensa em outra na vizinha Quissamã -, o Itamarati, de Mato Grosso do Sul, e o americano Infinit. Pelo menos um grupo japonês estaria planejando instalar usina na cidade para produzir álcool.

O município, que já teve 15 usinas, viu nove desativarem suas moendas. Mas a demanda por álcool mudou o quadro, e a região vive agora uma euforia. Os produtores, porém, alertam para obstáculos. É preciso primeiro recuperar a lavoura de cana e depois montar as usinas. Mas, o preço da terra em Campos dobrou diante da expectativa. Em 2004 o alqueire valia R$40 mil e hoje está cotado a R$80 mil, segundo o corretor Luciano Matoso.

Para o presidente do Sindicato Fluminense dos Produtores de Açúcar e de Álcool (SINAAF), Geraldo Coutinho, a região de Campos tem que investir em infra-estrutura de escoamento da produção, recuperando a malha de canais e estradas e as pontes sobre o Rio Paraíba. Ele sugere ainda que os produtores se organizem em consórcios ou condomínios, pois o trabalho associativo facilita o acesso a crédito para irrigação e transportes.

Hoje, seis usinas operam em Campos, todas com, no mínimo, metade de sua capacidade ociosa. Com uma lavoura de parcos 90 mil hectares plantados, o município quer em três anos voltar aos 200 mil hectares. A última grande safra foi em 1988, quando havia 187 milhões de hectares de cana plantados, permitindo que as usinas esmagassem 9 milhões de toneladas de cana, resultando em uma produção de 9,153 milhões de sacos de 50 kg de açúcar e 227 milhões de litros de álcool. Hoje as usinas esmagam apenas 3,5 milhões de toneladas de cana.