Título: Conservador amado e odiado
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 22/04/2007, O Mundo, p. 26

PARIS. Uma coisa Nicolas Sarkozy nunca escondeu: quer o poder. Há anos vem cavando o seu caminho rumo à Presidência. E, para atingir seu objetivo, deixou desafetos no caminho, como o presidente Jacques Chirac. Nicolas Sarkozy, de 52 anos, o político de direita mais popular da França, tinha todos os ingredientes para não conseguir ser presidente francês: é filho de um imigrante (húngaro) e tem nome que soa pouco francês. Não tem a erudição de um François Mitterrand e não estudou na École Nationale de Administration, de onde sai a nata da elite dirigente do país.

¿ Com este nome, ele não chega à Presidência da França. Aqui, é preciso ter algo que soe como nobreza ¿ apostava no ano passado um motorista de táxi.

Pois o que faz dele tão popular é isso: Sarkozy rompe com a linguagem tradicional dos políticos franceses. Em janeiro, sua consagração como candidato do UMP não foi uma escolha, mas um plebiscito. Determinado a ser candidato, sua popularidade foi derrubando todos os que queriam disputar a Presidência.

Advogado de formação, Sarkozy começou cedo na política. E bem. Recém filiado à ala jovem do RPR (o UMP, na sua versão anterior), ia fazer seu primeiro discurso num congresso do partido em 1975. Quando passou em direção ao pódio por Chirac, que era premier do governo de Valery Giscard d¿Estaing, ele disse:

¿ É você Sarkozy? Você tem cinco minutos para falar ¿ disse Chirac.

Sarkozy inflamou a platéia num discurso de 20 minutos. Anne Pauchant, 53 anos, uma militante do UMP que vive hoje em Menton, no sul da França, ouviu este discurso do jovem Sarkozy:

¿ Ele impressionou. Ficou evidente que iria longe.

A partir daí sua carreira não parou. Chirac o adotou como um dos seus, no velho estilo da política francesa. De conselheiro municipal da rica periferia parisiense de Neuilly-sur-Seine, em 1977, Sarkozy virou prefeito, seis anos depois. A ruptura com Chirac aconteceu na campanha presidencial de 1995. Na disputa interna do RPR, Sarkozy abandonou Chirac e anunciou seu apoio a Edouard Balladur. Chirac ganhou a luta interna e se elegeu presidente. Mas nunca perdoou a ¿traição¿ de Sarkozy.

Mas Sarkozy acabou se impondo na cena política, e no governo Chirac. Foi três vezes ministro dele, do Interior, da Economia, até ser nomeado ministro do Interior novamente, cargo que ocupou até recentemente. Foi neste cargo ¿ responsável pela polícia ¿ que Sarkozy consolidou sua popularidade e deu o seu grande escorregão político. Numa visita a Argenteuil, periferia pobre de Paris, se referiu aos jovens problemáticos como racaille (gentalha). Isso num momento em que os subúrbios explodiam numa revolta de jovens queixando-se de desemprego e discriminação.

Hoje a palavra racaille está colada à sua imagem. E alguns franceses temem que ele, no poder, acabe sendo um homem de confronto. Ele não conseguiu fazer campanha nas periferias de Paris. Como ministro, Sarkozy endureceu na questão da segurança e adotou um tom duro em relação à imigração, do tipo: ¿França, ame-a ou deixe-a¿. Críticos aproveitaram para compará-lo ao extremista Jean-Marie Le Pen. Ao mesmo tempo, defende uma política de ação afirmativa para corrigir as injustiças com os filhos de imigrantes. Filho de um imigrante húngaro e de uma francesa de origem judaica, ele foi batizado católico e cresceu em Paris. Sua fonte de inspiração política é Tony Blair, segundo Nicolas Domenach, um de seus biógrafos.

¿ Ele admira muito Tony Blair, por várias razões. Blair seduziu a mídia da forma que Sarkozy fez. E Sarkozy se interessa em ver como Tony Blair conseguiu vender sua ideologia política ¿ contou Domenach, numa entrevista à BBC.