Título: Realinhamento
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 23/04/2007, O Globo, p. 2

Os escândalos do mensalão e do dossiê Vedoin ainda estão gerando desdobramentos políticos no PT. Ainda que veladamente, esses dois episódios estão no centro de uma reorganização de forças internas que emergirá do seu terceiro congresso, que se realiza em agosto. A hegemonia das teses moderadas, consolidadas no governo Lula, não está ameaçada. Mas o Campo Majoritário sangra.

A luta interna está em curso e nenhum petista ousa afirmar que o congresso marcará o fim da "Era José Dirceu", que teve início em 1995 quando ele assumiu a presidência do PT. A crise ética, que sacudiu o partido, fez com que vários integrantes do Campo Majoritário, como os governadores Jaques Wagner e Marcelo Déda, se afastassem. O ministro da Justiça, Tarso Genro, passou a defender a renovação e uma maior democracia interna. Essa atitude o levou a lançar a tese, "Mensagem ao PT", junto com a tendência de esquerda Democracia Socialista. A tese é assinada por Déda, que vê a necessidade de oxigenar a direção do PT.

Os candidatos do Campo Majoritário venceram amplamente as eleições parlamentares de 2006. A esquerda reduziu sua bancada. Mas o Campo Majoritário já não tem um comando único e os paulistas, que formavam o núcleo do poder, têm dificuldades para construir uma nova liderança. A recondução do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que representa uma continuidade dessa era, é contestada. As tendências Movimento PT, Democracia Socialista e Articulação de Esquerda acreditam que o partido precisa de um novo comando, capaz de restabelecer a autoridade partidária, afetada pelo escândalo do dossiê Vedoin. Entre integrantes do Campo Majoritário, há os que defendem a mudança e citam como alternativa o ex-governador do Acre Jorge Viana, que teria sido deixado de fora do Ministério do segundo mandato do governo Lula justamente para cumprir essa tarefa.

O núcleo duro do Campo Majoritário, mesmo submerso desde o escândalo do mensalão, resiste a ceder poder. A primeira conseqüência disso é a determinação com que seus membros não abrem mão dos cargos que detêm no governo federal. A segunda, a adoção de um discurso crítico contra a política macroecônomica do governo Lula, e sobretudo ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na tentativa de manter seu domínio sobre a base petista, que vai eleger os delegados para o terceiro congresso.