Título: Aliados ameaçam para obter cargos
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 23/04/2007, O País, p. 3

Base acena com indicação de nomes para a CPI "mais ou menos afinados" com o governo.

BRASÍLIA. Sob pressão e chantagem dos aliados, que demandam cargos no segundo escalão e têm pressa na escolha dos nomes, o governo voltará suas atenções esta semana para os movimentos dos partidos na composição das CPIs do Apagão Aéreo no Congresso. O núcleo do governo tem informação de que a chantagem deverá incluir as indicações para a CPI: alguns aliados fazem mistério sobre os indicados, com ameaças veladas de que podem nomear deputados e senadores apenas "mais ou menos afinados" com o governo.

A principal ameaça vem justamente do maior partido da coalizão governista, o PMDB. O nome do deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), que não é um governista convicto e foi relator do processo de cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), é apresentado como uma opção para a presidência da CPI na Câmara. Sempre que o partido quer mandar recados a Lula, o nome de Schirmer, que tem forte rejeição do Planalto, é lembrado nas rodas.

- Falam no meu nome para a CPI, mas só se for para desagradar o governo - confirma o próprio Schirmer.

Líder da bancada do PMDB na Câmara nega chantagem

Com demandas por cargos, que vão de uma vice vice-presidência da Caixa, pedida pelos mineiros, a uma diretoria na BR Distribuidora, desejada pelo PMDB do Rio, os dirigentes do partido admitem a pressão. O líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), nega chantagem, mas alerta que o governo precisa ter sensibilidade para as indicações feitas pelo partido.

- Nós já entregamos a nossa lista, que não chega a ter 30 nomes. Agora, o governo precisa avaliar onde é importante a participação do PMDB. E como esses cargos de segundo escalão não são ocupados por fantasmas, mas por pessoas de carne e osso, que sejam por pessoas nossas. É preciso que o governo tenha sensibilidade para esta questão - avisou Henrique Eduardo Alves.

A sede por cargos e a força do PMDB no governo de coalizão aguçam a disputa na base aliada de Lula. Dirigentes, líderes e o baixo clero dos partidos menores, como PP, PR e até PTB já perceberam que poderão ter muita dificuldade para conseguir emplacar seus pleitos. E fazem ameaças escancaradas, no sentido de que suas bancadas, para estarem unidas, precisam ser atendidas.

- Hoje, as pretensões estão muito longe das realizações. Isso pode criar uma insatisfação na base - argumenta o líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA).

- O governo não terá condições de deixar os partidos na mão e não atender aos nossos pleitos. Vamos ter que votar a DRU, a CPMF e o PAC. Além disso, serão meses de CPI do Apagão Aéreo. Como um governo que precisa tanto vai deixar a base insatisfeita? - reforça o líder do PR, Luciano Castro (RR).

O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, no papel de articulador político do governo, está ciente da cobrança dos aliados e da força que os partidos têm no Congresso, mas pondera que não há cargos para todas as demandas:

- É preciso compreender que esse não é um governo novo com dez mil cargos vagos. É um governo que está fazendo uma adaptação. Isso é um processo que não é imediato. Os líderes da base estão angustiados, mas não dá para fazer uma mudança rápida por causa dessa angústia - diz Walfrido.

Diante da ausência de postos para atender a todos os desejos dos partidos aliados, o Planalto decidiu que vai mesmo soltar as nomeações aos poucos. Dessa forma, acreditam os articuladores do presidente, será mais fácil controlar as insatisfações. Um líder da base governista, interlocutor freqüente de Lula e seus auxiliares, conta a lógica dessa estratégia: como o governo não tem cargos para todo mundo, se as nomeações forem feitas todas de uma vez, muita gente vai ficar insatisfeita ao mesmo tempo. A reação será grande e barulhenta. Se for feita aos poucos, vai diluindo as insatisfações.

PMDB conta com a força da presidência da CCJ da Câmara

Além de ameaçar com indicações de aliados nem tão alinhados para a CPI, o PMDB também lembra de outras votações importantes para os governo. Para forçar as indicações do ex-deputado Moreira Franco para a BR Distribuidora e de Luiz Paulo Conde para Furnas, a bancada do PMDB do Rio conta com o poder de pressão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, presidida por Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Ele deve analisar em breve a emenda constitucional de prorrogação da CPMF.