Título: Marcão sabia detalhes de operação policial
Autor: Bottari, Elenilce e Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 23/04/2007, Rio, p. 11

Inspetor avisou à delegacia que ordem de Precioso valia para máquinas sem liminar.

A suposta participação do ex-secretário de Segurança Pública, José Roberto Precioso Jr., no esquema que beneficiaria os contraventores Aniz Abrahão David e Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, é reforçada por trecho de escuta telefônica em que o inspetor de Polícia Civil Marco Antônio Bretas, o Marcão, liga à Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco), em setembro. Na ligação, Marcão diz ter ficado sabendo de uma operação que seria realizada para recolher máquinas: "Chegou um negócio do José Precioso, determinando apreensão de máquinas de bingo, mas só para as que não têm liminar", alerta.

Preso na Operação Hurricane, Marcão é apontado nas investigações da PF como o principal elo entre o grupo dos contraventores Anísio e Capitão Guimarães com policiais e políticos envolvidos no esquema. A gravação mostra que o inspetor soube com antecedência do conteúdo da determinação dada pelo secretário José Precioso.

O acesso a informações privilegiadas não se limitava às operações da Polícia Civil. Prova disso, em outra gravação interceptada pela PF, o juiz Ernesto Dória comenta com o delegado federal Edson Antônio de Oliveira a viagem feita ao Rio para evitar "a explosão da bomba". De acordo com o relatório da Operação Hurricane, Dória se referia aos boatos de que a PF preparava uma grande operação de combate à corrupção no Judiciário. A conversa foi gravada em setembro, sete meses antes de a ação ser realizada.

Em outra conversa grampeada, o juiz Ernesto Dória e o delegado Edson Oliveira também falam sobre as articulações em torno da eleição no Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região: "Estão querendo sacanear o Carreira (desembargador José Eduardo Carreira Alvim, então candidato à presidência do TRF, também preso na Operação Hurricane)", diz Ernesto Dória.

O juiz do TRT de São Paulo acrescenta que o desembargador Carreira Alvim estava sendo alvo de denúncias dentro da Justiça: "Virou a República da cagüetagem", disse Ernesto Dória ao delegado federal.