Título: Nas celas da PF, euforia e revolta
Autor: Bottari, Elenilce e Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 23/04/2007, Rio, p. 11

Magistrados festejam liberdade; já delegado reclama de discriminação.

BRASÍLIA. A decisão da Justiça de soltar os magistrados e manter na prisão os bicheiros, policiais e advogados detidos na Operação Hurricane provocou, ao mesmo tempo, revolta e euforia na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, na tarde de sábado. Os magistrados e o procurador regional da República Sérgio Leal comemoraram uma vitória que vinham cantando desde o primeiro dia da prisão. Já o delegado Carlos Pereira da Silva, um dos presos, reclamou do que considerou discriminação.

O primeiro a anunciar, dentro da cela, a liberação de parte dos acusados foi o procurador Sérgio Leal. Em tom de quem já esperava uma decisão favorável para si e para os magistrados, Leal disse que todos seriam soltos.

Segundo advogado, Dória se arrependeu de confissão

Mas o desembargador Ricardo Regueira discordou.

¿ Negativo que todos vão sair. O Dória, que é dedo-duro, vai continuar preso ¿ disse Regueira, explicando que a revogação da prisão só seria válida para ele, para o procurador e para o colega José Eduardo Carreira Alvim, ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal do Rio. O outro desembargador, Ernesto Doria, do Tribunal Regional do Trabalho, de Campinas, permaneceria na cadeia.

Depois de preso na sexta-feira, Dória confirmou à Polícia Federal o esquema de venda de decisões judiciais para a máfia do bingo, conforme divulgou o GLOBO na edição de quarta-feira passada. Mas o desembargador estaria arrependido da confissão. Cleber Lopes de Oliveira, advogado de Dória, disse que o desembargador confirmou as acusações apenas na expecatativa de ser solto no mesmo dia. Se for chamado para depor de novo, Dória será orientado a dizer que nada sabia sobre o esquema.

Na carceragem da PF, as declarações de Regueira deixaram Dória apreensivo.

¿ Se todos forem embora e eu ficar aqui, eu me mato ¿ teria comentado Dória.

Antes de chegar à carceragem da PF, Carreira Alvim chegou até a apostar com um delegado que ele seria solto no dia seguinte a prisão.