Título: 'No grampo, os advogados não falaram no meu nome, só na vara'
Autor: Galhardo, Ricardo e Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 24/04/2007, O País, p. 3
SÃO PAULO. Um dos investigados na Operação Têmis, o juiz da 25ª Vara Cível Federal de São Paulo, Djalma Moreira Gomes, negou a acusação mas confirmou ter relações pessoais com o advogado Luiz Roberto Pardo, acusado de intermediar as transações. Ele recebeu O GLOBO na sede da Associação dos Juízes Federais de São Paulo, onde passou o dia recebendo manifestações de solidariedade de juízes e funcionários.
O senhor conhecia os envolvidos?
DJALMA MOREIRA GOMES. Os juízes, todos. Dos advogados conheço um deles.
Qual?
GOMES: O doutor Pardo.
Que tipo de relação tinha com ele?
GOMES: Relação pessoal, de amizade. Aliás, amizade não é o caso. Ele é um conhecido.
Como assim?
GOMES: Ele freqüenta a vara, me foi apresentado por um amigo comum. Isso faz anos já. Não nego que o conheça, que ele tenha acesso a mim.
Como o senhor o conheceu?
GOMES: Por oficiais da PM num evento de tiro.
Neste tempo, ele fez alguma insinuação sobre compra de sentenças?
GOMES: Não. Eu sabia que ele tinha interesse em bingo mas ele conhece meu posicionamento, que é antigo. Não tem como fazer essa insinuação. Não é uma coisa sobre a qual você pensa hoje de um jeito e amanhã de outro.
O senhor deu alguma decisão sobre bingos?
GOMES: Várias. Todas desfavoráveis, sem exceção, desfavoráveis aos bingos.
Sobre caça-níqueis?
GOMES: Nunca.
E em relação a créditos tributários?
GOMES: É difícil falar sobre o que a gente não sabe. Minha vara tem muitas demandas tributárias. Várias julgadas favoravelmente à União e várias contra. Se (a PF e o MPF) dissessem "olhe, o caso é este" ficaria mais fácil. O que são sentenças suspeitas? Bingo é uma coisa concreta, que dá para falar sim ou não. No meu caso é não.
O nome do senhor apareceu em alguma escuta da Operação Furacão?
GOMES: Apareceu. Em um processo distribuído em outubro na minha vara teria havido acerto com o juiz. Mas em outubro eu estava afastado e retornei três meses depois.
O senhor pode dar mais detalhes?
GOMES: No fim de outubro um processo de uma federação sobre bingos foi distribuído para a minha vara. Em um grampo desta época, um advogado de São Paulo fala com outro que o juiz "está na minha mão, ele quer R$70 mil por casa", eram seis casas e R$420 mil. O delegado da PF ligou o meu nome. Mas eles não falaram o meu nome, só falaram da vara.
Funcionários do Fórum disseram que documentos foram retirados da vara nas vésperas da operação. É verdade?
GOMES: Isso me espantou. Quando vi, procurei saber porque estava de férias até quarta-feira. Então me falaram que saiu um processo sigiloso de 63 volumes para o MPF, que pediu vista, no dia 10, e voltou hoje (ontem). Era um trâmite normal que, por azar, este despacho era meu.