Título: Vazamento teria beneficiado juízes
Autor: Galhardo, Ricardo e Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 24/04/2007, O País, p. 3

Policiais e empregados de telefônica são suspeitos de ter alertado envolvidos na Operação Têmis.

APolícia Federal abriu inquérito policial para investigar o vazamento de informações sobre a Operação Têmis. Segundo a PF, três policiais civis e funcionários de uma companhia telefônica teriam alertado os envolvidos no suposto esquema de venda de sentenças desbaratado pela Têmis. Eles serão ouvidos nos próximos dias. A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo aguarda apenas ofício da PF para abrir investigação interna.

Segundo a PF, as investigações que levaram à Operação Têmis vazaram há cerca de um mês e meio. Com isso, os acusados tiveram tempo para esconder ou eliminar documentos, provas que pudessem incriminá-los e bens que pudessem ser apreendidos. Para a PF, o vazamento prejudicou a operação mais do que a negativa do ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, a autorizar a prisão dos 43 investigados, entre os quais três desembargadores e dois juízes da primeira instância.

Segundo a PF, o desembargador do TRF-3 Roberto Haddad, um dos envolvidos, tirou sua frota de carros antigos do prédio onde mora, no Itaim-Bibi, na véspera da operação. Imagens gravadas pelo sistema de segurança do prédio apreendidas pela PF mostram que os carros estavam na garagem até a noite anterior à operação e permitem identificar quem levou os veículos.

Desembargadora saiu de férias na véspera

Na quinta-feira, dia 18, véspera da Têmis, até a imprensa já sabia com detalhes os locais onde seriam efetuadas algumas das quase 80 buscas e apreensões feitas pela PF na sexta-feira. Outra desembargadora do TRF-3 investigada pela PF, Alda Basto, saiu de férias na véspera da operação.

Segundo a PF, funcionários da empresa telefônica que operava as escutas autorizadas pela Justiça descobriram que a quadrilha estava sendo monitorada no início deste ano. Eles teriam repassado informações a três policiais civis que, por sua vez, alertaram os integrantes da quadrilha, provavelmente em troca de dinheiro. De acordo com a PF, os responsáveis pelo vazamento podem responder pelos crimes de corrupção e quebra de sigilo.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou ontem que a Corregedoria da Polícia Civil enviou um ofício à PF sábado pedindo os nomes dos policiais supostamente envolvidos para tomar as providências cabíveis.

Juízes continuam nos cargos em SP

Os três desembargadores do TRF-3 e dois juízes federais que estão sendo investigados continuam em seus cargos. Apesar de o ministro Félix Fischer, do STJ, ter autorizado inclusive a quebra do sigilo telefônico, fiscal e bancário dos acusados, os cinco magistrados só poderão ser afastados dos cargos caso a direção do TRF-3 instaure um procedimento para averiguar a conduta dos juízes e os afaste preventivamente.

O desembargador Nery Costa Junior, do TRF-3, foi trabalhar normalmente ontem. Ele negou tudo:

- Eu jamais autorizei funcionamento de bingo na minha jurisdição. Nenhum caça-níquel foi autorizado. Eu sempre defendi a tese da ilegalidade desses jogos, e o produto das minhas decisões é gerado pelo meu convencimento. Se fosse a favor dos bingos, eu também daria (sentenças). Mas não foi nem a favor dos bingos, nem a favor dos caça-níqueis - disse ao "Bom dia, Brasil", da Rede Globo.

Já o desembargador Roberto Luiz Haddad não quis se manifestar. Segundo sua secretária no TRF, ele foi trabalhar, mas disse que não falará sobre as investigações.

A desembargadora Alda Maria Basto também não se pronunciou ontem. Segundo sua assessoria, ela está de férias desde a última quinta-feira e só retorna ao trabalho no dia 19 de maio.

A juíza Maria Cristina Barongeno Cukierkorn, da 23ª Vara Cível, está de licença maternidade desde fevereiro e só retorna ao cargo em junho. Segundo a assessoria da Justiça Federal, ela não vai falar agora.

O juiz Djalma Moreira Gomes, da 24ª Vara Cível, foi trabalhar ontem e se declarou inocente. Ele é acusado de dar várias sentenças que beneficiaram as empresas fraudulentas e, segundo funcionários de seu escritório na Justiça Federal, ele retirou diversas caixas com documentos dois dias antes da Operação Têmis, razão pela qual a PF suspeita que também foi avisado antes da ação policial na sexta-feira.

O juiz Manoel Alvares, da 4ª Vara de Execuções Fiscais, pediu afastamento do cargo para tratamento de saúde há dez dias. A assessoria da Justiça Federal não sabe informar qual a doença que ele tem. Ele é acusado de ter recebido, em 2005, o equivalente em dólares a R$300 mil para beneficiar uma empresa em questões tributárias.