Título: Quem tinha que estar preso, não está
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 21/04/2007, Rio, p. 12

Deputada Marina Maggessi acusa o ex-chefe, Álvaro Lins, em conversa com foragido, gravada pela PF

Sérgio Ramalho

Marina Maggessi, deputada federal e inspetora licenciada da Polícia Civil, disse num telefonema ao inspetor Hélio da Conceição Machado, o Helinho, que a Operação Gladiador da Polícia Federal era uma "sacanagem" e que quem devia estar preso não estava, referindo-se ao ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, e seu subchefe, José Renato Torres. "Quem tinha que estar preso, não está, quem comandava a sacanagem tá solto, doutor Álvaro, doutor Zé Renato, tá tudo solto", disse a então deputada eleita, segundo a PF.

Gravada pela Polícia Federal em 16 de dezembro, um dia depois de a PF desencadear a operação, a escuta revela ainda que Marina teria usado um carro da Polícia Civil para buscar Helinho, que estava sendo procurado por agentes federais. "Marca um lugar que eu te pego, eu tô de viatura", disse Marina. Helinho e os inspetores Fábio de Menezes Leão, o Fabinho, e Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, são citados nas investigações como integrantes do grupo dos "inhos", que dariam proteção à máfia dos caça-níqueis. Esse grupo, segundo a PF, era comandado pelo deputado estadual Álvaro Lins. Na época, a prisão do ex-chefe de Polícia Civil não foi pedida pelo Ministério Público, mas a Justiça determinou busca e apreensão em seu apartamento.

Imunidade parlamentar para proteger foragido

Na conversa de quase 20 minutos, Marina oferece o apartamento onde mora, no Leblon, para que o policial fique escondido, e ressalta ter imunidade parlamentar, o que impediria a entrada dos agentes federais no imóvel: "Se quiser, vai lá para a minha casa, eles não podem entrar porque eu já sou diplomada e tenho imunidade, se esses merdas da Federal forem lá eu boto eles para correr, digo (que) só com ordem do STF (Supremo Tribunal Federal)".

O teor da gravação contraria a versão apresentada pela deputada durante entrevista, anteontem. Na ocasião, Marina confirmou que o inspetor foragido passou a noite de 18 de dezembro em seu apartamento e apresentou-se na Chefia de Polícia Civil, no dia seguinte. A escuta da PF, no entanto, indica que Helinho permaneceu no imóvel durante todo o fim de semana. Ele se entregou apenas no dia 20 de dezembro. Os outros integrantes do grupo dos "inhos" também foram presos.

Num dos trechos da conversa gravada pela PF, a deputada federal diz a Helinho ter falado com Flora Gil, mulher do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que a levaria ao então ministro Márcio Thomaz Bastos. Marina aproveitaria o encontro para criticar a Operação Gladiador.