Título: João Pedro marcou encontro com Marcão
Autor: Gripp, Alan e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 21/04/2007, Rio, p. 15

Deputado nega conhecer policial apontado como elo entre a máfia e políticos.

BRASÍLIA. O inquérito da PF deixa em situação delicada o deputado estadual João Pedro Figueira (DEM), coordenador da campanha, em 2004, e ex-secretário de Governo do prefeito Cesar Maia. As escutas telefônicas registram uma conversa em setembro do ano passado entre João Pedro e o policial civil Marcos Antônio dos Santos Bretas, Marcão, preso na última sexta-feira no Rio. João Pedro negou conhecê-lo.

A ligação, segundo a PF, aconteceu no dia 5 de setembro do ano passado, na reta final da campanha eleitoral. Os dois marcam um encontro para às 22h, num bar na Barra e acertam a entrega de material de campanha. O telefone atribuído pela PF ao deputado é o mesmo que ele utilizava durante a campanha e no governo municipal.

João Pedro mandou assessor para reunião na Barra

Segundo o inquérito, numa segunda ligação, às 19h48m, Marcão liga para João Pedro e diz que já está na Barra, apesar do encontro ter sido marcado para mais tarde. João Pedro afirma que está em uma reunião no Jardim Botânico e pergunta se quer que o busque. Marcão pondera que já está na Avenida das Américas. O então candidato diz que, em dez minutos, seu assessor de campanha Bruno irá se encontrar com ele.

A PF já tinha interceptado duas outras conversas entre Bruno e Marcão no mesmo dia, antes da ligação entre o policial e o candidato. Numa delas, o o policial se identifica como o ¿Marcão do Júlio Guimarães¿. Ele se refere a Júlio César Guimarães Sobreira, sobrinho do bicheiro Capitão Guimarães.

Nas contas de campanha do candidato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), João Pedro declarou ter recebido R$332,8 mil. Não há doações oficiais de empresários ligados a bingos. O deputado, segundo sua assessoria de imprensa, nega ter recebido material de campanha de bicheiros, não conhece Marcão e não se lembra da conversa gravada pela PF. Mais cedo, em nota, afirmou que as únicas conversas que teve com dirigentes da Liesa foi como secretário municipal de Governo, cargo que ocupou na administração Cesar Maia, e se defendeu atacando o vazamento de informações sobre as investigações.

¿Acho, inclusive, leviana a divulgação de suspeitas, que causaram danos à minha imagem, à minha família e aos meus amigos. Em mais de 15 anos de vida pública, não sofri por parte de ninguém qualquer acusação ou suspeita¿, diz ele.

Cesar Maia disse que também não conhece Marcão e que ¿confia inteiramente¿ nas explicações de João Pedro. Ele defendeu a investigação das ligações, mas levantou a suspeita de que o policial possa ter tentado se aproveitar do candidato, virtualmente eleito segundo pesquisas de opinião.

¿Há que investigar em nome de quem esse Bretas telefonou e o que disse. Afinal, em campanha a tentativa de ¿ajudar¿ candidatos que se estima eleitos e que são considerados importantes, é tática conhecida.¿