Título: Plano de contingência do governo pode ser acionado já na próxima quinta-feira
Autor: Tavares, Mõnica
Fonte: O Globo, 21/04/2007, Economia, p. 25

Petrobras aprova afretamento de navios para o transporte de gás de outros países.

BRASÍLIA e RIO. Apesar de acreditar que o abastecimento do gás natural da Bolívia será normalizado neste fim de semana, o governo já trabalha com um plano de contingência, que poderia ser acionado na próxima quinta-feira, dia 26. A primeira medida a ser adotada, se faltar combustível, é cortar o uso do gás pela própria Petrobras, um dos maiores consumidores do país. Outro ponto, que promete causar polêmica, é o corte do gás das indústrias de grande porte, que normalmente têm outra alternativa de suprimento.

Uma terceira medida é acionar as usinas termelétricas que utilizam como combustível óleo diesel ou outros substitutos. As duas últimas alternativas têm um custo mais elevado, que terá de ser repartido com todos os consumidores de energia do sistema, por meio da chamada Conta de Consumo de Combustível (CCC), um dos encargos da conta de luz.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, afirmou ontem que o plano de contingência para o caso de queda abrupta no fornecimento do gás natural da Bolívia deve ficar pronto nos próximos dias. Está prevista para a próxima semana uma reunião na Casa Civil com o ministro e representantes de Petrobras, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Há uma discussão de que o plano não poderá quebrar os contratos já existentes entre distribuidoras e empresas. O governo vem pressionando a comissão especial na Câmara responsável pelo projeto da Lei do Gás para incluir uma ação defensiva em caso de crise de abastecimento.

Rondeau: país poderá importar gás da Nigéria e do Qatar

Apesar de avaliar que a crise não se deve à má vontade de Evo Morales, e sim a problemas internos graves da Bolívia, o governo continua firme na decisão de acelerar a redução da dependência do gás boliviano. Rondeau confirmou que o Brasil vai negociar a importação de gás de outros países:

- Vamos negociar onde estiver o gás em condições econômicas e com segurança. Pode ser o Qatar, Trinidad e Tobago, Nigéria, Argélia.

A Petrobras aprovou ontem o afretamento de dois navios especiais junto à Golar LNG, empresa norueguesa e uma das maiores do mundo no setor de gás natural liquefeito (GNL). Com isso, poderá importar GNL da Nigéria a partir do primeiro semestre de 2008. O afretamento custará US$90 milhões por ano.

O Diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, explicou que, para agilizar o processo, foi desenvolvido um projeto que permite a regaseificação (transformação do combustível liquefeito novamente em gás) no próprio navio. Um deles terá capacidade para regaseificar 14 milhões de metros cúbicos diários. Os contratos de afretamento serão assinados na semana que vem, em Barcelona, durante a Conferência Internacional de GNL. Segundo Sauer, também na próxima semana, será assinado o contrato para compra no mercado spot (livre) de GNL com uma companhia nigeriana. Os volumes só serão definidos no momento da importação.

O ministro Rondeau disse também que a construção de duas regaseificadoras já está planejada dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As duas unidades devem ficar prontas em maio de 2008.

CRISE VAI AFETAR OS CUSTOS DA INDÚSTRIA, na página 26