Título: Crise do gás boliviano vai afetar os custos de produção, alerta indústria
Autor: Novo, Aguinaldo e Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 21/04/2007, Economia, p. 26

Setor responde hoje por quase 80% do consumo nacional do combustível.

SÃO PAULO e RIO. A redução de 7% no fornecimento de gás natural da Bolívia para o Brasil é uma "situação administrável", já que é possível contingenciar a distribuição do produto entre vários tipos de consumidores, mas deve provocar impacto nos custos de produção do setor industrial, que terá de usar outras fontes de energia.

A avaliação é do consultor Pedro Krepel, diretor do Departamento de Infra-estrutura do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Segundo ele, a indústria responde hoje por quase 80% do consumo nacional de gás natural, de 50 milhões de metros cúbicos por dia (sem contar o que é usado pela Petrobras em suas refinarias).

- Da forma como foi proposto, o corte representa uma situação administrável a curto prazo. O governo colocaria em marcha um programa de contingenciamento. Mas haverá custos no setor industrial para substituir o gás por outros combustíveis - afirmou ele.

Especialista sugere compensação tributária

Krepel estima que entre 20% e 30% do parque industrial brasileiro estão aptos a trabalhar com mais de um tipo de combustível. O consultor sugere que, na hipótese de o fornecimento não ser normalizado rapidamente, o governo adote uma medida tributária, de modo a equiparar o custo dos combustíveis para os consumidores industriais.

- Além do custo maior, a substituição pode provocar perda de eficiência e de produtividade - afirmou Krepel.

Ele criticou o que chamou de "dependência brutal e exagerada" no fornecimento de gás natural de um único país. Deu como exemplo a Espanha, cujo consumo interno é suprido por 11 fontes diferentes.

Para diminuir essa dependência, a Petrobras tem um projeto que prevê investimentos de US$22,4 bilhões até 2011 na cadeia de gás - US$17,9 bilhões sairão dos cofres da Petrobras e US$4,5 bilhões virão de parceiros da estatal.

Adriano Pires, especialista em setor energético, diz que, caso o corte de fornecimento persista por mais tempo, o primeiro impacto deve ser sentido pelas refinarias da Petrobras, que consomem quatro milhões de metros cúbicos por dia. O segundo será sobre as usinas térmicas.

A gestão dessa crise, na opinião de Pires, foi marcada por erros de planejamento. O primeiro deles foi incentivar o consumo por indústrias e veículos, contando apenas com o gás boliviano:

- Em 2004, já era possível prever problemas no fornecimento. Mesmo assim, só em maio de 2006 a Petrobras anunciou plano de investimentos em novos campos de gás natural.