Título: Novo gigante bancário
Autor: Novo, Aguinaldo e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 24/04/2007, Economia, p. 19

Barclays fecha acordo para comprar ABN Amro por US$91 bi, a maior aquisição da História.

Obanco britânico Barclays formalizou ontem o acordo de compra do rival holandês ABN Amro, por 67 bilhões (US$91 bilhões) em ações, no que pode se tornar a maior aquisição de um banco da História. O Barclays vai dar 3,225 novas ações por cada papel do ABN, o equivalente a 36,25 por ação, com base no fechamento dos mercados na sexta-feira. Isso representa um ágio de 33% sobre o valor das ações do ABN antes do início das negociações, em 16 de março.

A operação deve criar o quinto maior banco do mundo em valor de mercado, com US$190 bilhões e 47 milhões de clientes. No Brasil, será o terceiro maior banco privado. Segundo dados compilados pela Bloomberg, será o maior banco em ativos do mundo, com US$3,1 trilhões.

- A nova instituição dará a nossos empregados um novo e excitante futuro como um dos maiores bancos do mundo - afirmou o diretor-executivo do Barclays, John Varley, que comandará o novo banco.

O acordo pode atrapalhar os planos de Royal Bank of Scotland (RBS), Santander Central Hispano e Fortis, que estavam preparando uma proposta pelo banco holandês.

- Todos agora esperam para ver o que RBS, Santander e Fortis vão fazer - disse Joost de Graaf, administrador do Kempen Capital Management. - Ficaremos surpresos se eles não fizerem uma contraproposta.

No domingo, o ABN havia fechado a venda do banco americano LaSalle para o Bank of America, por US$21 bilhões em dinheiro. O acordo com o Barclays está condicionado à venda do LaSalle, informaram as instituições financeiras. Com essa operação, os bancos distribuirão cerca de 12 bilhões aos acionistas por meio de recompra de ações.

Segundo os dois bancos, a operação permitirá uma economia anual de 3,5 bilhões, principalmente por meio de cortes de custos, incluindo 23.600 demissões, ou cerca de 10% da força de trabalho combinada das instituições. Um sindicato holandês disse que a maior parte das demissões acontecerá em Inglaterra, Espanha, Itália e Holanda.

O preço oferecido pelo Barclays ficou de acordo com as expectativas dos analistas. Mas eles disseram que a oferta pode ser muito baixa para assegurar uma vitória ou excluir outro grupo interessado no ABN. Varley, do Barclays, afirmou que apresentou "um bom preço" para os acionistas do banco holandês. O presidente do ABN, Rijkman Groenink, disse que o conselho vai avaliar outras propostas, mas afirmou que a do Barclays é "a melhor opção" para os acionistas.

- Eu ainda acho que o melhor dono desses ativos seria o consórcio RBS-Santander-Fortis, então eu creio que essa proposta tem uma chance baixa de vitória - disse Alex Potter, analista da Collins Stewart.

Pelo acordo, os acionistas do Barclays terão cerca de 52% do novo banco, que se chamará Barclays Plc.

No Brasil, será o 3º maior banco privado

Caso consumada, a operação permitirá ao Barclays saltar para o terceiro lugar no ranking dos maiores bancos privados em operação no Brasil. Mantendo a operação brasileira do Real, o Barclays incorporaria R$120,83 bilhões em ativos, passando a R$122,969 bilhões. Passaria à frente de Santander Banespa, com R$107,18 bilhões, e do Unibanco, com R$103,77 bilhões, segundo dados relativos a 2006. Ficaria atrás apenas do Bradesco, que tinha R$265,5 bilhões, e do Itaú, com R$209,69 bilhões.

Com apenas um escritório de representação no país, dedicado a operações de tesouraria e de câmbio para comércio exterior, ativos totais de R$2,139 bilhões e R$142 milhões em operações de crédito, o Barclays é hoje o 49º no ranking nacional de bancos, segundo a Austin Rating.

De acordo com o presidente do ABN Amro Real, Fábio Barbosa, a proposta do Barclays não interfere, por enquanto, na administração das operações do grupo no Brasil, onde controla desde 1998 o Banco Real.

- Nada muda para nossos clientes, para nossos fornecedores e parceiros. A vida continua - afirmou Barbosa, ressaltando que a proposta do banco britânico ainda precisa ser aprovada pelos acionistas do ABN, em assembléia marcada para agosto.

Barbosa, também presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), esteve sábado em Amsterdã, em uma reunião global do ABN para discutir, entre outros assuntos, as negociações com o Barclays.

Desde que foi comprado pelo ABN, o Real expandiu seus ativos em 529%, passando de R$19,2 bilhões, em 1998, para R$120,8 bilhões. No mesmo período, o patrimônio líquido saltou 646%, de R$1,3 bilhão para R$9,779 bilhões. Só no ano passado, a instituição fechou seu balanço com um lucro de R$2,048 bilhões, 43% a mais do que em 2005.

São números como esses que despertam o possível interesse de outras instituições. Com o controle do Real, o Santander, por exemplo, passaria da sexta para a a terceira posição entre os bancos brasileiros (com ativos de R$227,37 bilhões), atrás apenas de Banco do Brasil (R$296,3 bilhões) e Bradesco (R$265,5 bilhões).

Há informações no mercado de que o Itaú também poderia eventualmente entrar na disputa pelo Real, por meio do Bank of America, seu maior acionista estrangeiro. O negócio atrairia ainda o francês BNP Paribas, que no Brasil atua como banco de investimento, e o HSBC, que, caso o negócio se confirme, poderia fazer uma oferta ao Barclays para ficar com o Real, avaliado em R$28 bilhões.

- Isso (uma eventual transferência de controle do Real para outro banco) sempre será objeto de negociação. O principal é que estamos apresentando bons resultados, fomos premiados, temos uma boa imagem junto a nossos clientes e estamos crescendo no país - disse Barbosa.

Erivelto Rodrigues, presidente da consultoria Austin Rating, considera que, pelo histórico de pouco interesse dos ingleses pelos negócios na América Latina, é provável que o Barclays se desfaça do Real.

- Caso fiquem com o Real, vão se tornar um dos maiores bancos aqui, mas não os vejo com apetite pelo Brasil - afirmou. - Minha expectativa é que eles devem se desfazer dos negócios do ABN Amro aqui.

(*) Com Bloomberg News e agências internacionais