Título: UE gosta de resultado e torce por direitista
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 24/04/2007, O Mundo, p. 25

BRUXELAS. O resultado do primeiro turno das eleições francesas foi recebido com alívio por aqueles que defendem a continuação do processo de integração do continente. Além da derrota dos extremistas de direita e de esquerda, a alta votação de Nicolas Sarkozy, considerado o candidato cujo discurso é mais adequado ao contexto atual da UE, também foi bem recebida.

Somados, os três principais candidatos da direita, da esquerda e do centro tradicionais ¿ todos europeístas ¿, tiveram 76% dos votos. Nas eleições de 2002, as correntes tradicionais da política francesa tiveram somente 43% no primeiro turno.

¿ Considero tranqüilizador que os radicais, especialmente Le Pen, tenham sido derrotados. E parece que não terão grande influência no segundo turno ¿ disse o ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que está em Luxemburgo para uma reunião da UE.

A votação do ultranacionalista Jean-Marie Le Pen foi o fato mais comemorado. Em 2002 ele teve quase 17% dos votos, chegando ao segundo turno. Agora, ficou em quarto, com 10,5%.

¿ A queda de Le Pen é uma boa notícia para todos os democratas ¿ festejou o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, que está em Luxemburgo.

Se entre as lideranças nacionais a cultura política européia manteve sua tradição e os socialistas, como o espanhol José Luis Zapatero e o italiano Romano Prodi, apoiaram Ségolène, e próceres conservadores, como o italiano Silvio Berlusconi, indicaram Sarkozy, nas instituições da UE a torcida silenciosa é pelo candidato da direita francesa.

¿ Do ponto de vista de Bruxelas, acho que há uma sensação geral de que Sarkozy é quem está levando a questão européia mais a sério ¿ disse Giles Merritt, secretário-geral do centro de pesquisas Amigos da Europa, de Bruxelas.

Para tirar a UE do impasse provocado pela vitória do ¿não¿ no referendo sobre a Constituição Européia, Sarkozy propôs um mini-tratado. Seria criado um Ministério Europeu do Exterior; feita a mudança da regra da maioria qualificada, com a dupla maioria (55% dos países e 65% da população); e uma maior responsabilidade para o Parlamento Europeu. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, apoiou calorosamente a proposta.

Para as mudanças, Sarkozy não acha preciso um referendo. Já Ségolène não abre mão dele. Ela também acusa o BC europeu de prejudicar o crescimento francês e quer ampliar os direitos sociais dos franceses.