Título: Vaticano: Eutanásia e aborto são terrorismo
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Fonte: O Globo, 24/04/2007, O Mundo, p. 27

Angelo Amato, segundo principal responsável pela doutrina católica, diz que casamentos entre homossexuais são perversos

CIDADE DO VATICANO. O segundo principal responsável do Vaticano pela manutenção da doutrina da Igreja Católica disse ontem que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é algo perverso e afirmou que o aborto e a eutanásia são formas de ¿terrorismo com uma face humana¿.

As acusações foram feitas pelo bispo Angelo Amato, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, segundo principal cargo do órgão que foi comandado pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, antes de ser eleito Papa Bento XVI. Num discurso durante encontro de capelães, Amato denunciou o ¿abominável terrorismo¿ de homens-bomba. Em seguida, condenou o que chamou de ¿terrorismo com face humana¿, acusando jornais e noticiários de televisão de muitas vezes se parecem com ¿perversos filmes sobre a maldade¿ ao se referirem a assuntos como aborto e eutanásia.

¿ Por exemplo, o aborto é chamado de interrupção voluntária da gravidez, e não a morte de um ser humano indefeso ¿ disse Amato. ¿ Eutanásia é chamada de morte com dignidade.

Ele criticou o fato de a mídia apresentar diversos locais como representantes da ¿expressão do progresso humano¿. Entre eles, Amato citou clínicas de aborto, chamadas por ele de ¿matadouros de seres humanos¿.

¿ Nos parlamentos de países que se dizem civilizados há leis contrárias à natureza dos seres humanos sendo promulgadas, como a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo ¿ disse Amato, que é considerado um dos integrantes da Cúria Romana mais próximos a Bento XVI em questões morais.

O discurso de Amato ocorreu no momento em que a Igreja Católica está pressionando o Parlamento italiano a voltar atrás num projeto de lei que criaria mecanismos para dar algum reconhecimento legal a casais heterossexuais não casados e pares homossexuais. Defensores deste projeto acusam a Igreja de estar interferindo em assuntos internos da Itália.

Bento XVI pede anulação da dívida dos países pobres

O Vaticano liberou ontem para o público uma troca de cartas entre o Papa Bento XVI e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, na qual o Pontífice pede a anulação sem condições da dívida externa dos países mais pobres. O líder da Igreja Católica também defendeu o aumento no investimento para que se encontrem tratamentos para a Aids, a tuberculose e a malária.

A carta foi escrita por Bento XVI no dia 16 de dezembro, mas só foi publicada ontem. São exortações do Papa à chefe de Estado da Alemanha, que ocupa a presidência rotativa da União Européia e sediará a próxima reunião do G8, grupo de sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, em junho.

¿São necessárias ações para um cancelamento rápido, completo e incondicional da dívida externa dos países pobres fortemente endividados e dos países menos desenvolvidos¿, escreveu o Pontífice na carta para Merkel. Ele também frisou que, ao mesmo tempo, são precisos mecanismos para que estes países não voltem a cair numa situação de dívida insustentável. ¿Seria necessário criar e garantir, de maneira segura e duradoura, condições comerciais favoráveis que, sobretudo, incluam um acesso amplo e sem reservas aos mercados¿.

A resposta da chanceler federal alemã, só enviada para o Vaticano em fevereiro, descreve como suas prioridades o ¿desenvolvimento econômico da África¿, ¿um maior compromisso da comunidade internacional¿, a ¿luta contra a Aids¿, e a ¿anulação da dívida dos países pobres¿.