Título: Aproximações
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 25/04/2007, O Globo, p. 2
O deputado Ciro Gomes terá, nos próximos dias, encontro com o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Pretende explicar-lhe que o bloco de esquerda formado por seu partido, o PSB, mais o PDT e o PCdoB não foi criado para hostilizar o PT ou para com ele estabelecer uma concorrência frontal no mesmo campo político que habitam. O movimento vai ao encontro da preocupação de outros governistas, inclusive de petistas, em preservar o relacionamento entre o bloco, Ciro e o PT, para o caso de o presidente Lula vir a ter um candidato não-petista à sua sucessão em 2010.
Quando falava ontem de sua iniciativa, Ciro mencionava apenas a necessidade de esclarecer os rumos e os objetivos do bloco, formado num momento de conflito com o PT, o da disputa entre Aldo Rebelo e o petista Arlindo Chinaglia pela presidência da Câmara. Informou que, para discutir os rumos do bloco e seu "adensamento político", reuniram-se na semana passada, em São Paulo, ele e Marcio França (PSB), Aldo Rebelo e Renato Rabelo (PCdoB), Paulinho da Força (PDT) e o economista Marcio Pochman. Ante a especulação de que isso poderia ser o início dos preparativos para o lançamento de sua candidatura em 2010, Ciro negou informando que procurou Berzoini e que vão se encontrar nos próximos dias.
- Outro Lula não haverá em 2010. Nosso campo precisa ter juízo, pois, se o outro jogar bem, pode ser favorecido por uma série de fatores.
Entre eles, o fato de as grandes conquistas populares do governo Lula, como Bolsa Família, inflação baixa e controlada, salário mínimo maior, crédito e aumento da renda já terem sido assimilados pela população mais pobre. Cita um ditado popular que bem ilustra a situação. "Bocado comido, bocado esquecido".
Não havendo outro Lula, na avaliação de Ciro, para manter seu favoritismo o campo lulista dependerá essencialmente do êxito do segundo governo Lula.
- E isso significa basicamente obter um crescimento que não seja apenas a soma dos ganhos de produtividade da economia, mas um incremento que atenda aos três milhões de jovens que chegam anualmente ao mercado de trabalho - diz Ciro.
As metas do PAC, se cumpridas, atenderiam a este pressuposto: 4,5% este ano e 5% nos próximos três anos.
A experiência ensina que uma candidatura presidencial não-petista jamais será aceita pelo PT, que tem dificuldade para apoiar até candidatos a prefeitos dos partidos aliados. Mas agora é diferente, diz um nome de forte simbolismo dentro do partido. Agora é diferente porque toda uma geração de dirigentes e líderes do partido, ligados à sua fundação, foi atingida pela crise ética. A renovação e a produção de um nome de grande força política, ainda que não seja um Lula, levará algum tempo. Por isso não seria tão absurda, hoje, a hipótese de Lula abraçar uma candidatura de outro partido, com apoio do PT. E hoje, obviamente, quem tem mais chances de vir a ocupar esse papel é Ciro Gomes.