Título: Para americanos, Lula falha na educação
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 25/04/2007, O País, p. 4

Especialistas vêem avanços na economia e no social, mas criticam ensino.

WASHINGTON. Ao avaliar ontem os primeiros cem dias do segundo mandato do presidente Lula, três especialistas americanos que acompanham a vida brasileira com atenção chegaram a uma conclusão comum: a situação do país, e o bem-estar de sua população, vêm melhorando graças ao pragmatismo das políticas implementadas pelo governo.

Os três concordaram que o crescimento econômico tem sido mais lento do que se esperava. Mas também concordaram que isso se deve a uma característica histórica, que foi sintetizada numa frase por um deles:

- É importante ser realista em relação ao que esperar de uma democracia que ainda lida com sérias questões de desigualdade - disse Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor"s (S&P), agência de classificação de risco dos países.

Ela e Albert Fishlow, professor de economia da Columbia University, e Stan Gacek, diretor de política internacional da AFL-CIO, a maior central sindical americana, tinham sido convidados pelo Inter-American Dialogue, centro de estudos hemisféricos, para traçar um perfil do Brasil sob Lula neste início de segundo mandato.

O saldo foi positivo, mas pontilhado por sinais de alerta de Fishlow, para quem a maior falha do governo Lula é na área de educação:

- O Brasil é um dos poucos países em que metade das pessoas que terminam o curso básico é semi-analfabeta. Há um atraso também em ciências e matemática. E tem havido uma expansão de universidade privadas de má qualidade. O nível dos professores no Nordeste está abaixo do aceitável. É nessa área que o Brasil precisa melhorar nos próximos 25 anos, pois a educação é responsável por 40% da melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Fishlow atribuiu o avanço brasileiro mais ao bom clima comercial internacional do que a questões internas. Mas, no geral, reconheceu que "todo mundo, de qualquer nível de renda, sem dúvida se sente melhor no Brasil hoje". E concluiu:

- A ortodoxia do PT triunfou. E ao dizer isso me refiro à continuidade da política macroeconômica do primeiro mandato de Lula, junto com a expansão das políticas sociais, principalmente no Nordeste - disse.

Os três especialistas chegaram a uma mesma previsão em termos de crescimento econômico este ano: de 4% a 4,3%. O país só não cresce mais que isso, disse Fishlow, porque o índice de investimento interno "continua terrivelmente baixo".