Título: PF monta operação de guerra para depoimentos
Autor: Oliveira, Germano
Fonte: O Globo, 25/04/2007, Rio, p. 14

Órgão poderá usar aviões, helicópteros, bases militares e imagens de satélite para evitar fugas

BRASÍLIA e RIO. Com receio de protestos populares ou de eventuais tentativas de fuga, a Polícia Federal está montando uma operação de guerra para levar os 21 presos da Operação Hurricane para depor na 6ª Vara da Justiça Federal, no Rio. Nos planos da polícia, consta a possibilidade de uso de aviões, helicópteros, bases militares e satélites. A PF trabalha até com a hipótese de levar ao Rio e reconduzir a Brasília todos os presos várias vezes, até o final da série de depoimentos, mesmo que isso implique aumento dos custos da operação.

Os presos serão levados para o Rio a partir de amanhã. Inicialmente, a PF cogitava levar bicheiros, advogados e policiais em pequenos grupos. Mas teve que mudar os planos. O Código de Processo Penal assegura ao preso o dinheiro de acompanhar os depoimentos dos demais réus no processo. Ou seja, a polícia terá que criar todas as condições para que os detentos presenciem os interrogatórios de cada cúmplice. O problema é que, até agora, a PF não encontrou uma carceragem no Rio que seja adequada para receber os presos e garantir a segurança deles. Policiais acreditam que existe o risco de manifestações populares, porque alguns presos são ligados a escolas de samba.

Diante do problema, a polícia estuda duas opções: levar e trazer todos os presos várias vezes ou mantê-los na carceragem de uma base militar. No caso da segunda hipótese, os detidos seriam conduzidos para a 6ª Vara de carro ou de helicóptero. Para se prevenir contra eventuais ataques ou tentativas de resgate dos detentos, a PF usará até imagens de satélite. Depois dos depoimentos, os presos serão levados para o presídio federal de segurança máxima em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Juíza decide suspender segredo de Justiça

A juíza da 6ª Vara Federal, Ana Paula Vieira de Carvalho, ficará responsável por começar, amanhã, o o interrogatório de policiais, advogados, empresários e bicheiros acusados de envolvimento na máfia do bingo no Rio. A juíza recebeu a denúncia contra 24 acusados na última sexta-feira, logo depois que o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, decidiu desmembrar o processo. Os desembargadores José Ricardo de Siqueira Regueira, José Eduardo Carreira Alvim e Ernesto da Luz Dória, além do procurador federal João Sérgio Leal Pereira, com foro privilegiado, responderão a processo no STF.

No Rio, os réus responderão por crimes de corrupção ativa e passiva e concussão, entre outros. Ao receber a denúncia, a juíza decidiu ainda suspender o segredo de Justiça do processo, por tratar-se, segundo ela, de interesse público. "Tendo em vista que a presente ação penal trata da atuação, em tese, de agentes públicos que supostamente concederiam facilidades a donos de casas de bingo e exploradores de caça-níqueis mediante paga, no exercício da função pública, parece indubitável (e legítimo) o acentuado interesse público na apuração e acompanhamento dos fatos e, como conseqüência, a necessidade de fazer valer, para o presente procedimento, a regra geral da publicidade dos atos processuais", afirma a juíza, que manteve o sigilo das interceptações telefônicas, previsto em lei, e das investigações em curso.

O advogado Nélio Machado, que defende o contraventor Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e seu sobrinho Júlio César Guimarães Sobreira, afirmou ontem que vai recorrer da decisão de transferir os réus, classificada por ele como ilegal. Segundo o advogado, trata-se de "exemplicidade desmedida com atropelo da lei":

- Isso é justiçamento medieval. Culpa antecipada. Eles são presos provisórios e, no entanto, estão sendo postos em unidades destinadas a quem cumpre regime disciplinar diferenciado, quando têm o direito de ficar presos em unidades no estado onde residem e respondem a processo. É ilegal e vou protestar contra a medida - afirmou o advogado, que também defende o desembargador José Ricardo de Siqueira Regueira.