Título: PF negocia delação premiada com acusados
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 25/04/2007, Rio, p. 16

A MÁFIA OFICIAL/TÊMIS: Policial civil vai ser ouvido e deverá ser indiciado pelo vazamento de informações.

Objetivo dos agentes federais é conseguir colaboração de integrantes do segundo escalão da organização.

SÃO PAULO. A Polícia Federal deverá oferecer o benefício da delação premiada aos investigados pela Operação Têmis que concordarem em colaborar nas investigações. Os depoimentos começaram ontem, com o dono de um imóvel citado como endereço de uma empresa fantasma. Hoje, a PF vai ouvir o policial civil de São Paulo Celso Pereira de Almeira, o Xuxinha, que deverá ser indiciado pelo vazamento da operação juntamente com outros dois policiais civis e Washington Alves Rodrigues Gonçalves, funcionário de uma empresa telefônica.

Segundo a PF, a legislação referente à maior parte dos crimes supostamente cometidos pelos investigados prevê a delação premiada. O benefício será oferecido aos integrantes do segundo escalão da organização, que, segundo a polícia, negociava venda de decisões na Justiça Federal de São Paulo.

- Todo mundo sabe que ninguém condenado a menos de quatro anos vai preso no Brasil. Se o sujeito está enroscado em um crime cuja pena é de seis anos, a gente oferece uma redução de dois e o sujeito abre a boca - disse um policial.

Entre os crimes supostamente cometidos pelos suspeitos, estão lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro, corrupção ativa e passiva e formação de organização criminosa. Ontem a PF ouviu os primeiros depoimentos. Em Campo Grande (MS), foi ouvido o empresário Luiz João Dantas, supostamente ligado ao desembargador Nery da Costa Júnior, do Tribunal Regional Federal, da 3ª Região. Ele foi indiciado por formação de quadrilha e exploração de prestígio, e liberado. Em São Paulo, foi ouvida uma testemunha, dona de um imóvel citado como endereço de uma empresa fantasma. Ela confirmou que a empresa fantasma não funciona no local.

Os depoimentos de Sérgio Gomes Ayala, procurador da Fazenda em São Paulo, e de um empresário cujo nome não foi divulgado estavam previstos para ontem, mas foram adiados a pedido de advogados, que alegam falta de tempo para avaliar os autos.

O policial civil Xuxinha, do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic), será interrogado e, provavelmente, indiciado hoje. Xuxinha é suspeito de ter vazado informações para investigados.

Segundo a PF, ele e outros dois policiais foram procurados por integrantes do esquema assustados com rumores sobre uma operação da PF. Os policiais entraram em contato com Washington Gonçalves, funcionário da companhia telefônica que operava as escutas autorizadas pela Justiça. Gonçalves teria confirmado uma lista de números grampeados há cerca de um mês e meio.