Título: Investimento estrangeiro na produção é recorde
Autor: Batista, Henrique Gomes e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 25/04/2007, Economia, p. 25

Brasil recebeu US$2,7 bi em março, com destaque para o etanol. Dólar baixo eleva gastos de turistas no exterior.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Brasil registrou recorde de investimento estrangeiro direto - voltado ao setor produtivo - em março, quando ingressaram no país US$2,778 bilhões, o melhor resultado para o mês desde 1947, segundo o Banco Central (BC). Esse valor é 70,5% superior ao desempenho do mesmo período do ano passado, US$1,629 bilhão. No trimestre, o resultado já atinge US$6,578 bilhões, valor 66,2% superior à entrada de US$3,957 bilhões nos três primeiros meses de 2006. A explosão dos negócios com etanol é uma das vedetes da expansão.

- Este é o melhor primeiro trimestre da História, descontando os períodos de privatização. Os investidores estão vindo para o país porque têm mais confiança - afirmou Altamir Lopes, chefe do departamento econômico do Banco Central.

Parte deste resultado foi obtido graças a uma grande operação na área de produtos químicos e a outra no setor financeiro. Lopes, porém, não divulgou quais foram elas.

O investimento em produção de álcool atingiu US$49 milhões em março e US$132 milhões no primeiro trimestre. O valor é muito superior ao registrado em 2006: em março o investimento fora de US$3 milhões e no trimestre, de US$7 milhões.

- O valor investido em produção de álcool está crescendo muito: no trimestre já é metade do ano passado, quando atingiu US$260 milhões, concentrados nos últimos meses de 2006. A nossa expectativa é que este investimento cresça muito neste ano - afirmou Lopes.

Bons resultados também estão sendo registrados em abril. Segundo Altamir, até ontem, o BC já havia registrado ingresso de US$1,7 bilhão no Brasil e a previsão é que o mês feche com US$2 bilhões em investimento estrangeiro direto. O BC manteve a expectativa de que, este ano, serão aplicados US$20 bilhões no setor produtivo.

Mantido o ritmo atual, o investimento direto estrangeiro líquido chegaria a US$36,130 bilhões, um recorde, segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). A entidade ressalta que os dados do BC indicam que a apreciação cambial (que encarece os ativos em reais) não tem tirado o apetite dos investidores. Já o investimento brasileiro no exterior foi de US$1,466 bilhão em março.

O BC comprou US$8,3 bilhões nas atuações que fez no mercado de câmbio no mês passado. Este valor só é inferior ao de fevereiro, que somou US$8,819 bilhões. No trimestre, as compras totalizam US$21,912 bilhões - em 2006, foram US$34,336 bilhões. Esta atuação fez as reservas internacionais brasileiras atingirem US$109,531 bilhões em 31 de março. Neste mês, com as operações já realizadas até o dia 23, as reservas somam US$118,5 bilhões.

Déficit na conta de viagens cresceu 718% no 1º trimestre

Na conta de viagens do balanço de pagamentos, a valorização do real frente ao dólar continua tendo grande impacto. Segundo o BC, no primeiro trimestre, o déficit, que reflete a diferença entre o que os brasileiros gastam no exterior e os estrangeiros gastam no Brasil, explodiu. O saldo ficou negativo em US$262 milhões, 718,7% acima dos US$32 milhões do mesmo período de 2006.

Segundo o BC, os brasileiros deixaram US$1,594 bilhão no exterior no trimestre, aumento de 27,9% frente ao valor de janeiro a março do ano anterior, US$1,246 bilhão. Já os gastos dos estrangeiros cresceram 9,6%, de US$1,215 bilhão para US$1,332 bilhão. Em março, os brasileiros gastaram no exterior US$521 milhões, enquanto os estrangeiros trouxeram para o Brasil US$434 milhões, ou seja, houve déficit de US$87 milhões. E este movimento deve ser intensificado: em abril, até ontem, déficit é de US$109 milhões.