Título: País registra 97 mortes por dia no trânsito
Autor: Castro, Luiz Cláudio e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 26/04/2007, O País, p. 10

Em três anos, número de vítimas fatais subiu 10%; Saúde tentará coibir consumo de álcool por motoristas.

BRASÍLIA. Uma pesquisa divulgada ontem pelo Ministério da Saúde revela que a cada ano acidentes de trânsito são responsáveis por mais mortes no Brasil. O número de mortes em acidentes subiu de 32,7 mil em 2002 para 35,7 mil em 2005, um crescimento de quase 10%. Os números de 2005 equivalem a 97 mortes por dia, confirmando que o trânsito é uma das principais causas de morte de pessoas com menos de 59 anos no país. Dos 35.753 mortos em 2005, 81,5% eram homens. De acordo com o ministério, para os indivíduos de até 14 anos e também para os idosos, o atropelamento é a primeira causa de morte, respondendo por 50% dos óbitos.

Segundo o levantamento, as mortes são provocadas por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, alta velocidade, falta de capacete ou cinto de segurança e problemas na infra-estrutura de rodovias e vias públicas.

Temporão: "Pena mais grave para os que bebem e matam"

Por causa disso, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, informou que vai editar um decreto com medidas para tentar controlar o excesso do consumo de álcool no país, mas não antecipou o que deve ser feito. A pesquisa mostra que metade das 35 mil mortes por ano no trânsito é provocada por excesso de consumo de álcool pelos motoristas.

- Não estará nesse decreto a regulamentação de propaganda de cerveja na TV porque isso é de competência da Anvisa. Além da questão do álcool, temos que regulamentar o excesso de velocidade e o uso de equipamentos de segurança, como capacetes e cintos. Precisamos de penas mais graves para motoristas que bebem e matam - disse Temporão.

O estado que esteve à frente no ranking de mortes em 2005 foi Santa Catarina, com 32,3 óbitos para cada grupo de cem mil habitantes. O Rio apareceu em 18º lugar, com 17,9 óbitos por cada cem mil pessoas. Em números absolutos, foram 2.879 mortes no Rio. A Bahia aparece por último, com 12,9 mortes por cem mil. Entre as capitais, a cidade do Rio registrou 930 óbitos em 2005, o que equivale a uma taxa de 24,2 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas, fazendo com que o Rio ficasse no 23º lugar entre as 27 capitais. A líder no ranking é de Boa Vista (RR), com 34,7 mortos. Natal é a última, com 9,6 mortes por grupo de cem mil pessoas.

Cresce óbito em municípios de até cem mil habitantes

Os dados mostram que houve uma reversão da tendência da queda notada a partir de 1998 com o impacto do novo Código de Trânsito Brasileiro. Outro dado da avaliação foi o aumento de 72% nos óbitos em municípios com menos de cem mil habitantes, entre 1990 e 2005, quando passaram de 9.998 para 17.191 nesses municípios.

- Estamos observando que esse crescimento está muito acentuado em pequenos e médios municípios e uma das hipóteses é o aumento da taxa de motorização nesses locais e a pouca estrutura de controle e fiscalização desses municípios - disse Taliba Libânio, diretor do Departamento de Análise de Sistemas de Saúde.

As faixas etárias mais afetadas foram dos 20 aos 39 anos (45%) e dos 40 aos 59 anos (26%), totalizando 25.375 óbitos entre os 35.753 registrados em 2005. Do total de mortes nessas faixas, 85% (21.529 óbitos) ocorreram entre homens. Entre os adolescentes, o acidente de trânsito já é a segunda principal causa de morte - a primeira é o homicídio. De acordo com o levantamento, 3.976 pessoas entre 10 e 19 anos perderam a vida no trânsito em 2005.