Título: Policial teria quebrado sigilo
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 26/04/2007, Rio, p. 15

PF diz que investigados em SP esconderam provas e bens.

SÃO PAULO. O depoimento do policial civil Celso Pereira de Almeida, o Xuxinha, à Polícia Federal, ontem, reforçou os indícios da existência de um esquema de venda de decisões judiciais na Justiça Federal de São Paulo, investigado pela Operação Têmis. Segundo fontes da PF, Xuxinha confessou ter vazado informações sobre a operação aos investigados. Ele foi indiciado por formação de quadrilha e quebra de sigilo. Anteontem, o empresário sul matogrossense Luiz João Dantas foi indiciado por tráfico de influência e formação de quadrilha.

-Ele capitulou- disse um policial federal envolvido na investigação.

O advogado de Xuxinha, Diego Bandeira, negou que seu cliente tenha participado do vazamento, mas confirmou que ele tem ligações com diversos suspeitos e chegou a receber dinheiro de um deles.

Segundo o advogado, Xuxinha conhecia o procurador da Fazenda em São Paulo, Sérgio Gomes Ayala, suspeito de participar da venda de sentenças relativas a créditos tributários:

- Ayala foi delegado e ele (Xuxinha) trabalha na polícia. É natural que se conheçam.

O policial civil também admitiu conhecer Washington Alves Rodrigues Gonçalves, funcionário de uma empresa telefônica responsável pela operação das escutas telefônicas.

-É uma relação de trabalho. Às vezes ele (Xuxinha) ligava para dizer que o delegado pediu, ou que o juiz autorizou, uma escuta- afirmou Bandeira.

Mas a relação mais próxima de Xuxinha é com o empresário Sidney Ribeiro, um dos 43 investigados pela Operação Têmis, e de quem o policial recebia dinheiro. De acordo com o advogado, Xuxinha fazia serviços de escolta em uma empresa de Ribeiro há três anos. No último mês, o policial teria recebido dinheiro, segundo Bandeira, para escoltar o empresário até uma agência bancária. Segundo a PF, o pagamento de Ribeiro a Xuxinha aconteceu há cerca de um mês e meio, data que coincide com o vazamento das informações.

Segundo policiais envolvidos na investigação, integrantes do suposto esquema souberam da operação e procuraram policiais civis, como Xuxinha, que teriam contatos dentro da empresa telefônica que opera as escutas. O contato seria Washington, que foi afastado de suas atividades na empresa. As escoltas seriam uma forma de camuflar o motivo real dos pagamentos.

Com o vazamento, os investigados tiveram tempo para eliminar provas e esconder bens que poderiam ser apreendidos. O próprio Ribeiro teria trocado os discos rígidos dos computadores de sua empresa. O desembargador Roberto Haddad, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), retirou sete carros e uma moto da garagem do prédio onde mora na noite anterior à operação.

Além de Xuxinha, os policiais civis José Luiz Costa Alvarez e João Avelares Ferreira Varandas também são investigados por participação no vazamento. Varandas foi ouvido ontem e negou ter participado.