Título: PF prende quatro policiais federais por seqüestros
Autor: Kawaguti, Luis
Fonte: O Globo, 27/04/2007, O País, p. 4

No total, 30 pessoas foram presas, entre elas 2 policiais civis.

SÃO PAULO. A Polícia Federal prendeu ontem 30 pessoas, incluindo quatro policiais federais, dois civis e um rodoviário, e desbaratou uma quadrilha especializada em seqüestro de fazendeiros e empresários que age em diversas cidades do país, sobretudo no interior paulista. O grupo, que atraía vítimas com promessa de negócios vantajosos na compra de máquinas e equipamentos agrícolas, tinha ainda a ajuda de policiais em golpes com moedas falsas. Outras seis pessoas já haviam sido presas nos últimos 20 dias.

A investigação começou em 2005. As prisões ocorreram em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. O grupo, segundo a polícia, arrecadava mensalmente R$600 mil com os golpes. Chegava a fazer até dois seqüestros por semana. Dez integrantes do bando fariam parte da facção criminosa que atua nos presídios paulistas e que, ano passado, praticou uma série de ataques.

Pelo menos 15 pessoas foram vítimas de seqüestros pela quadrilha. O esquema começava com um falso empresário, que oferecia negócios a fazendeiros e madeireiros, principalmente de Rio Grande do Sul e Pará. O "pivô" oferecia máquinas agrícolas e equipamentos a preço baixo, atraindo as vítimas para Minas e São Paulo. No encontro, eram rendidas, postas no porta-malas de carros e levadas para fazendas isoladas, onde eram mantidas em cativeiros e torturadas. De lá, as vítimas eram obrigadas a ligar para familiares e sócios, exigindo o pagamento.

- Eles eram obrigados a dizer que haviam fechado o negócio e a própria vítima pedia que alguém da família ou o sócio depositasse um valor em conta corrente de laranjas - detalhou Julio Baida, delegado da PF que coordenou a Operação Oeste, como foi batizada.

Bando aplicava outros golpes, com policiais

As contas eram abertas em bancos por Arineu Zocante, segundo a polícia. Seria ele o responsável em arregimentar laranjas que usavam CPFs falsos. Na contabilidade da quadrilha, Arineu ficaria com 30% do valor do resgate e quem cuidava do cativeiro recebia 40%. Os outros 30% eram divididos entre as pessoas que atraíam os empresários para o golpe.

Ainda de acordo com a PF, os valores do resgate variavam de R$40 mil a R$300 mil. Outro líder da quadrilha, José Pins, que já tinha 19 mandados de prisão por seqüestro, também foi preso ontem.

Além dos seqüestros, o grupo contava com policiais federais e civis para um outro golpe, que funcionava da seguinte maneira: integrantes da quadrilha atraíam vítimas para locais isolados com propostas como venda de dólares a valores bem acima do mercado cambial. Chegavam a prometer à vítima que US$1 valeria R$3.

Outra proposta era a de trocar dinheiro verdadeiro por moeda falsa. Quando a vítima chegava com grandes quantias, era surpreendida por policiais federais e civis, que aprendiam o dinheiro, mas nunca o apresentava na delegacia, sem registro de ocorrência. No fim da operação, o dinheiro era repartido entre policiais e marginais.

- Esses policiais também vendiam informações privilegiadas das operações à quadrilha - disse Baida.

Entre os policiais presos estão Celso Ferreira, Henrique Pinheiro Nogueira, Roland Vagner Junior e Emerson Luiz Lopes (da PF), Adagoberto José Teixeira e Iran Rosa de Oliveira (policiais civis) e Ademilson Rodrigues de Lima (rodoviário).

(*) Do Diário de S.Paulo