Título: Sinal verde para aplicar no exterior
Autor: Bexk, Martha
Fonte: O Globo, 27/04/2007, Economia, p. 21

CMN autoriza investimento de até 20% da carteira de fundos no mercado internacional.

OConselho Monetário Nacional (CMN) autorizou ontem que fundos de investimento - como de renda fixa, multimercados e de ações - apliquem parte de seus recursos no mercado internacional. A medida tem o objetivo de permitir que instituições financeiras diversifiquem suas carteiras, mas também pode contribuir para depreciar o real em relação ao dólar, pois implicará uma retirada de moeda americana do país.

Até agora, apenas fundos classificados como Dívida Externa (que compravam cotas de endividamento no exterior) podiam aplicar lá fora. Segundo o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - órgão que regulamenta e fiscaliza o mercado de fundos e de ações -, Marcelo Trindade, havia demanda das instituições financeiras para estender a autorização a outros investimentos.

- A nossa indústria cresceu. Agora, ela precisa diversificar essas aplicações. Se só for possível comprar ativos no Brasil, fica limitada a capacidade de competição do gestor brasileiro em relação ao gestor estrangeiro - explicou Trindade, acrescentando:

- No ano passado, 400 mil novos cotistas entraram em fundos de ações e em fundos multimercados no Brasil. Com a redução dos juros, você acaba tendo migração natural para fundos mais agressivos e uma tendência para que esses investidores apliquem dinheiro fora do Brasil (buscando alavancar ganhos).

Analistas dizem que medida é positiva

O CMN, órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional, é formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central (BC). A decisão complementa uma iniciativa da CVM que já havia permitido que fundos investissem no exterior. Para entrar em vigor, ainda será publicada uma circular do BC, nas próximas semanas.

Pela decisão do CMN, os fundos multimercados poderão aplicar no exterior até 20% de sua carteira (recursos dos investidores), e as demais categorias, até 10%. Trindade explicou que isso vale para qualquer fundo sob as regras da CVM. Fundos de pensão, por exemplo, que são regulados pelo Ministério da Previdência ou pela Susep, não podem aplicar diretamente. Para eles, a opção seria aplicar em um fundo autorizado, desde que obedecendo às regras de seu setor.

Segundo Trindade, ainda não é possível estimar o montante que pode ser destinado ao mercado internacional. Ele ressaltou, porém, que não deve chegar a 10% da indústria brasileira, ou seja, a R$100 bilhões. Os fundos têm hoje aplicado R$1 trilhão:

- É difícil saber o volume potencial, mas certamente não estamos falando de R$100 bilhões, pois grande parte da indústria é formada por fundos de pensão e outros que têm restrições regulatórias - explicou Trindade.

Para o economista e sócio da Mauá Investimentos Caio Megale, a medida é positiva, pois amplia o escopo de investimento dos poupadores nacionais. Ele afirmou que a autorização pode provocar uma alta do real em relação ao dólar, o que ajudaria a equilibrar o câmbio no país, mas, diz, o movimento será pouco significativo.

- O Chile tem uma experiência nessa direção. No início, houve uma depreciação da taxa de câmbio, mas, a médio prazo, não houve muita diferença - disse Megale.

Essa também é a avaliação do gestor de fundos multimercados do Unibanco, Luiz Adriano Martinez:

- Não acho que a medida tenha grande efeito no câmbio, até porque existe uma limitação para que os fundos invistam até 10% de sua carteira.

Já o economista da Tendência Leonardo Miceli classificou a medida como extremamente benéfica:

- Dá maior flexibilidade ao mercado, maior retorno aos aplicadores e melhora o ambiente de negócios.