Título: Desemprego sobe e renda fica estável
Autor: Almeida, Cássia e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 27/04/2007, Economia, p. 27

Com mudança na pesquisa do IBGE, salário cresceu 3% no ano passado.

RIO e SÃO PAULO. O aumento de 10,4% na população desempregada na Região Metropolitana de São Paulo foi um dos motivos que impediram a queda da taxa média de desemprego nas seis regiões (Rio, Salvador, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Belo Horizonte) pesquisadas pelo IBGE em março. A taxa subiu de 9,9% em fevereiro para 10,1%, mas caiu na comparação com março de 2006, quando o desemprego alcançou 10,4% da força de trabalho. O rendimento dos trabalhadores se manteve estável frente a fevereiro, mas cresceu 5% na comparação com março de 2006.

- A subida na taxa preocupa, diante da importância de São Paulo, que responde por 40% da população ocupada nas seis regiões. A corrida em busca do emprego aumentou em 106 mil o número de desocupados em março na região. Não observamos esse comportamento nos mesmos meses de 2006 e 2005. Isso diminuiu nossa expectativa de que o desemprego possa começar a cair a partir de abril - afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

Mesmo com a alta do desemprego, segundo Azeredo, alguns indicadores mostram que o mercado de trabalho continuou melhorando com o aumento do salário e do emprego com carteira assinada. O número de trabalhadores registrados subiu 4,4% contra março de 2006, num comportamento que se repete há três anos.

Massa salarial ultrapassou R$22 bilhões

Nessa pesquisa de março, o IBGE mudou a metodologia de cálculo do rendimento. Começou a imputar um valor aos ganhos dos trabalhadores que não informam sua renda aos pesquisadores do IBGE. Um universo que corresponde a 2,3% dos entrevistados. Isso fez o rendimento médio real subir 1,3% em 2006.

- A falta dessa informação é mais concentrada em profissionais com mais de 11 anos de estudo, empregadores e trabalhadores por conta própria, que costumam ganhar mais. Em cima das características desses trabalhadores, conseguimos imputar um rendimento - explicou Azeredo.

Segundo Márcia Quinstlr, coordenadora de Trabalho e Emprego do IBGE, essa prática é comum em outros países, que têm uma taxa de não resposta bem superior à brasileira, entre 20% e 30%.

Com isso, o instituto passou a calcular a massa total de rendimentos dos 20,5 milhões de ocupados, que alcançou R$22,5 bilhões em fevereiro, sem alterações frente a janeiro. Contra janeiro de 2006, a alta foi de 7,7%, a maior da série.

Os pisos salariais não acompanharam a alta do rendimento do trabalhador, muito menos os reajustes dados ao salário mínimo. Estudo divulgado ontem pelo Dieese mostra que 72,6% dos valores estabelecidos como piso salarial ficaram abaixo de 1,5 salário mínimo em 2006. Pouco mais da metade (50,7%) flutuaram entre um e 1,25 salários e só 3% alcançaram valor superior a três salários. Os dados consideram 452 acordos fechados no ano passado no país.

Em 2004 e em 2005, o percentual de pisos entre 1 e 1,5 e até 1,5 salário mínimo foram de 25% e 50%, respectivamente. Pelos dados do Dieese, a média dos pisos, que equivalia a pouco mais de 1,7 salário mínimo em 2004 e 2005, caiu para 1,47 no ano passado.